Todos se entrevistam de forma segura.
Para quanto perguntas difíceis?
L uís Miguel de Sousa, esse eterno figurante da política madeirense que ninguém tem coragem de aplaudir mas que insiste em não desaparecer, decidiu que precisava urgentemente de se ouvir a si próprio. Mas atenção: não foi entrevistado por qualquer jornalista incómodo, não senhor. Foi pelo seu próprio empregado, o sempre obediente director do Diário de Notícias da Madeira — essa folha de serviço público à medida dos interesses do patrão. Faltou só o tapete vermelho.
Afinal, quando se tem a chave do microfone, por que não dar largas à vaidade? Depois de anos a viver à sombra do poder, agora finge ser crítico, mas sempre com quem lhe segura o guarda-chuva e a carteira. Enfim, quem não tem coluna vertebral, arranja quem a alugue.
Mas o momento verdadeiramente sublime foi quando o “grande” Luís Miguel Sousa, dono do império Grupo Sousa, decidiu brindar-nos com o seu autoelogio habitual: 650 milhões de euros em activos e 1.100 empregados! Palmas. Em plena Madeira — a região mais pobre de Portugal, onde um terço da população mal consegue pagar as contas — o senhor Sousa acha que empregar 1.100 pessoas é motivo de orgulho. Deve ser. Lá no palácio dele.
É curioso, com 260 mil habitantes e campeões da pobreza, a ilha continua a girar em torno do mesmo grupo que manda nos barcos, nos portos, nos combustíveis e até nos microfones. Mas os empregos? Ah, esses são contados à gota. E ainda temos de ouvir que isso é “sucesso com responsabilidade”. Sim, sim — a responsabilidade de manter tudo na mesma, poucos ganham muito, muitos ganham pouco ou nada.
E claro, para que o negócio fique em família, lá está já garantido o trono para as filhas — que, com sorte, vão herdar não só os activos mas também o hábito de confundir a Madeira com propriedade privada.
A cereja no topo do bolo? A tolerância com os políticos. Pois claro! Quando se tem os bolsos cheios e a comunicação social no bolso, qualquer crítica soa a música de fundo. No fundo, sabem que na Madeira o verdadeiro poder não se mede pelos votos. Mede-se pelas cadeias logísticas, pelos portos e pelo controlo da opinião pública.
Por isso o Madeira Opina mete medo, mexe na ferida, põe as pessoas a pensarem diferente… e isso assusta quem alegadamente pratica corrupção
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