O problema da "Silly Season" na Madeira


A "Silly Season", época parva em português, é um termo usado para descrever aquele período, geralmente no verão (principalmente em agosto), em que as notícias sérias e importantes escasseiam. Como resultado, os jornais, televisões e outros meios de comunicação social enchem o espaço noticioso com histórias mais leves, bizarras, triviais ou francamente ridículas. É como se a seriedade tirasse férias.

Neste enquadramento, e já no início de julho, temos uma grave problema. Tal como o Dia das Mentiras é todos os dias, a época da parva tem 12 meses na Madeira. Como vamos resolver isto? Aumentar a dose? A época da parva parece a Festa da Flor, um certame esticado para um mês que nem nos dias principais tem flores. No caso da época parva o problema é ao contrário, temos em excesso todo o ano e, já não se sabe como aumentar a dose para a "Silly Season". Só se for com o Dário feliz a embebedar o pessoal, graúdo e menor.

Como ninguém se demite, por mais falta de idoneidade que tenham, que tal falar sobre melancias gigantes no Porto Santo, avistamentos de OVNIs na Quinta Vigia e os alucinamentos dos residentes, o José Manuel Rodrigues numa preleção de economia, qualquer coisa, o Pedro Ramos a fechar portas, se couber. A nossa bilha em revista à portuguesa na peça "Presidente de Partido".

Enquanto no continente os jornalistas suspiram de alívio quando agosto termina, e as notícias sérias voltam a encher as páginas, na ilha parece que o calendário mediático ficou preso num ciclo infinito de melancias gigantes, concursos de lapas e a cor da nova pintura do corrimão do teleférico. É uma espécie de "Groundhog Day" noticioso, onde a gravidade dos acontecimentos se dissolve na brisa marítima, e a urgência de informar é substituída pela urgência de preencher espaço.

É quase poético, na verdade, ver a atrapalhação dos jornalistas para cumprir com o "Silly Season" que já o fazem todo o ano para não dar notícias. Enquanto o resto do mundo se debate com crises económicas, guerras e loucos a governar, na Madeira a grande manchete pode ser o número de turistas que escorregaram nos trilhos, mais um número astronómico de entradas para abafar o bardamerda, qual o melhor sítio para comer um bolo do caco, enchendo o pandulho a Jardim. Porque loucos a governar... aqui não temos. Os comentadores, por exemplo, não falam de nada porque o Carvalho está a fazer as listas. O jornalismo madeirense é mestre na arte da distração, um ilusionista, que nos faz olhar para o dedo enquanto o elefante da realidade passa despercebido. O que será que eles vão inventar para aumentar a dose do pão e circo?

A "Silly Season" na Madeira não é uma estação, é um estado de espírito, quer dizer, estado da parva, uma filosofia editorial. O mais importante é manter a calma, o tempo passa e tudo se resolve, se resolve para bandidos e malcriados também resolve para jornalistas. Vamos apreciar a paisagem e, claro, noticiar cada pequena alteração no tempo ou no trânsito, porque, afinal, o que mais há para dizer quando se vive num postal? As festas do Savoy? Talvez seja essa a verdadeira sabedoria da ilha: porque se preocupar com o mundo quando se pode gozar a vida (e as notícias) com a leveza de uma brisa de verão, 365 dias por ano?

Viva os parvos e a estação deles, vota na mesma, no mesmo, no pior.

Nota: silly mesmo é aquele "comentadeiro" que diz que uns pagam 60€ para viajar e ainda queriam atendimento VIP na inoperacionalidade. Não sabia que as low cost trabalhavam à margem da Lei, deve ser por isso que despejam um hospício na Madeira ... por cada voo.

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