A lota nova anuncia o hospital novo.


A lota nova do Funchal não deixa satisfação a quem presta serviços, os pescadores, portanto, depois de terem insistido em manter a lota no sítio errado, as instalações "vendidas" com os habituais superlativos de "melhor do mundo", para madeirense "tapado" não pensar no calhau que somos no mundo, acabam de descer à realidade. Pior do que isso, é este exemplo se replicar no novo hospital, coisa que muita gente pensa... Que prossigam as "primas-donas", as hierarquias politizadas, a inclusão de lóbis, as falhas de stock de medicamentos (por falta de pagamento atempado), que se voltem a "cultivar" bactérias que matam mais as pessoas do que as próprias doenças, mas sobretudo a manutenção das listas de espera com um hospital com menos capacidade de resposta num momento de envelhecimento da população, em que chegam cada vez mais trabalhadores estrangeiros (fortemente notados), novos residentes estrangeiros, nómadas digitais, turismo com acidentes, etc.

Muita gente pensa que vão replicar os defeitos em novo palco porque a política será a mesma e não vai aproveitar um momento de ouro. Paralelamente a isto é preciso salientar a importância dos funcionários no funcionamento de tudo, cada vez mais descartáveis por razões economicistas e políticas, contratos abusivos e precários, não se importando com o know how que não "enraiza", antes circula para lugares mais estáveis e melhor remunerados.

Numa era em que a eficiência e o lucro parecem ser as únicas métricas de sucesso, a percepção de que as pessoas são a base de qualquer sistema é, muitas vezes, esquecida. Prevalece os interesses pessoais encrustados no trabalho público, como desviar para a privada. A nova lota do Funchal, tal como o futuro hospital, é um exemplo claro de como a "excelência de uma infraestrutura moderna" pode ser comprometida se a gestão e, acima de tudo, o capital humano não forem valorizados. Quem manda é uma política disfuncional com um Presidente que desadequa  formação das pessoas para encaixá-las onde houver um lugar.

Numa sociedade cada vez mais tecnológica, existe a falsa crença de que as máquinas ou os edifícios por si só resolvem problemas. Cuidado com a estupidificação do ser humano através das máquinas, e que se lembrem do episódio dos hackers no SESARAM que teve de pedir documentos em papel para se recuperar... os que tinham.

A realidade é que são as pessoas que fazem um sistema funcionar, para o bem ou para o mal. A lota não é apenas um edifício: é o pescador que sabe como tratar o pescado, o comerciante que conhece o mercado, o funcionário que garante que tudo está em ordem. Da mesma forma, um hospital não é só um edifício e equipamento de ponta, é o médico com a sua experiência, a enfermeira que cuida dos doentes e todo o pessoal auxiliar. Sobretudo, não é desadequar o equipamento do modelo Europeu! Que altura para afirmar isto, está claríssimo.

O saber-fazer (ou know-how) não se aprende num livro; é o resultado de anos de experiência, de dedicação e de conhecimento prático. Quando este conhecimento é constantemente desvalorizado, e os profissionais são tratados como recursos descartáveis, ele não tem a oportunidade de enraizar. Em vez disso, circula, procurando melhores condições e maior estabilidade noutros lugares, levando consigo a sua experiência e, consequentemente, fragilizando o sistema que deixa para trás. Muitas vezes nem fica na ilha superlativa, travada que está pela política no protecionismo a lóbis e monopólios.

As razões para esta desvalorização dos meios humanos são, muitas vezes, económicas e políticas. Para as empresas ou instituições, é mais "barato" contratar mão-de-obra mais jovem, com salários mais baixos, ou adotar modelos de trabalho precários. A lógica é simples: reduzir custos no curto prazo. No entanto, este "economismo" tem um custo elevado a longo prazo, com mortes não contabilizadas financeiramente.

A rotatividade constante impede que os trabalhadores criem laços com a instituição, com os colegas e, mais importante, que aprofundem as suas competências. Tem piada que a base dos lóbis pouco muda. Até saem de secretário e vão gerir o hospital.

A falta de experiência e de estabilidade reflete-se na qualidade do serviço prestado, isto só pode ser verdade perante as listas de espera que nunca diminuem e já contagiam Público e Privado. No caso da lota, isso pode significar peixe de menor qualidade. No hospital, pode ter consequências ainda mais graves.

Quando os trabalhadores sentem que não são valorizados, não há respeito através da gestão e dos meios colocados à disposição, a motivação e o empenho diminuem, e se não diminuem causam burnout pelo ambiente imutável. A confiança no sistema de trabalho é substituída pela desilusão, o que leva à inevitável procura de novos empregos.

Para que a nova lota, o hospital ou qualquer outra instituição se tornem um verdadeiro sucesso, não basta construir edifícios modernos e lançar propaganda na comunicação social, nalgum tempo sem direito a pergunta. É fundamental investir nas pessoas. É preciso oferecer salários justos, condições de trabalho dignas e um ambiente que promova a estabilidade e o crescimento profissional.

Apenas quando a experiência, o conhecimento e a dedicação dos funcionários forem reconhecidos e valorizados, é que as "falhas" da gestão, as "máfias" ou os problemas de um sistema não serão apenas movidos para um "palco novo", mas sim resolvidos de uma vez por todas. Afinal, as grandes instituições são feitas de grandes pessoas.