A estatística é uma arte, não uma ciência exata

A entrevista possível.

Entrevista com o Diretor Regional de Estatística da Madeira: “A estatística é uma arte, não uma ciência exata”

Jornalista: Senhor Diretor, o mais recente relatório da DREM revela que 68% dos espaços públicos da Madeira estão ocupados por turistas em “ambulância contemplativa”. Pode explicar-nos o que significa exatamente esse conceito?

Diretor da DREM: Com certeza. A “ambulância contemplativa” é um estado estatisticamente validado em que o turista se desloca sem destino fixo, mas com uma clara intenção de absorver a beleza da paisagem. É uma categoria emergente que os nossos algoritmos de inteligência artificial conseguiram identificar com base em padrões de paragem súbita, olhar perdido e número de fotografias tiradas por minuto.

Jornalista: E como surgiu a ideia para este estudo?

Diretor da DREM: Foi no seguimento de um pedido do MA, que nos desafiou a produzir estatísticas mais “próximas do sentir do povo”. Ora, entendemos que o povo da Madeira quer saber o que se passa nos seus jardins, miradouros e esplanadas. E se há algo que a DREM sabe fazer, é transformar perceções em percentagens.

Jornalista: Alguns críticos dizem que este tipo de estudos serve para desviar atenções de problemas reais, como o descontrolo no setor do rent-a-car. O que responde?

Diretor da DREM: Olhe, nós não desviamos nada. Apenas olhamos para onde nos pedem para olhar. Se nos pedem para olhar para os turistas sentados, nós olhamos. Se nos pedem para ver o lado positivo de 12 mil carros alugados a circular em simultâneo na Via Rápida, nós vemos. A estatística é uma lente — e nós apenas ajustamos o foco.

Jornalista: E quanto à fiabilidade dos dados? Há quem diga que os números são, digamos, criativos.

Diretor da DREM: A criatividade é uma ferramenta estatística subvalorizada. Veja bem: a realidade é complexa. A nossa missão é simplificá-la em gráficos bonitos e percentagens redondas. Se isso ajuda a contar uma boa história, tanto melhor. Afinal, o que é a verdade senão uma média ponderada?

Jornalista: Para terminar, o que podemos esperar dos próximos estudos da DREM?

Diretor da DREM: Estamos a trabalhar num novo índice de “Satisfação Turística por Metro Quadrado de Calçada Portuguesa” e num modelo preditivo de “Probabilidade de um turista tropeçar em zonas históricas”. A Madeira está na vanguarda da estatística emocional. E isso é motivo de orgulho — estatisticamente falando, claro.