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| Imagem da edição de 16 de julho do JM. |
T rês meses. É o tempo que separa estas duas fotos e foi quanto bastou para a Câmara do Funchal trocar o perfume de campanha pelo cheiro a poder. Jorge Carvalho, o novo presidente, fez o que qualquer político maduro na arte da sobrevivência faria: foi ao beija-mão. E não a qualquer um, mas ao “petit Salazar”, Jaime Filipe Ramos, o verdadeiro estratega das sombras do PSD-Madeira.
A foto não engana: Helena Leal, outrora número dois e promessa de uma governação humanista, foi elegantemente empurrada para o número três. A cadeira do poder ficou reservada para Carlos Rodrigues, o homem de mão de Jaime Filipe, conhecido por frases como “os críticos deviam acabar no fundo do mar”. Um democrata, portanto.
Paulo Lobo, o engenheiro académico que acreditava que a política podia ser uma extensão da ética, ficou reduzido a Urbanismo. O pelouro das Obras Públicas e da Mobilidade, esse manjar apetitoso de milhões e adjudicações, foi parar às mãos certas. Certas para quem, é que já se sabe. A bem da estabilidade, claro.
Os funchalenses não votaram em Carlos Rodrigues como número 2, nem com o pelouro das obras públicas. Foram mais uma vez enganados.
A Câmara do Funchal tem um orçamento de 120 milhões de euros. Com Carlos Rodrigues na coordenação política e na tesouraria de pelouros estratégicos, o futuro promete ser de betão armado e de asfaltos generosos.
Jorge Carvalho, que até aqui se destacava pela sobriedade e decência, parece finalmente ter percebido como se reina na Madeira. A realeza regional não se conquista com virtude. Conquista-se com fidelidade.
Resta saber quanto tempo aguentará o engenheiro Lobo neste circo de vaidades, adjudicações e silêncios cúmplices. Dentro do PSD já se fazem apostas: três meses, seis, um ano? Tudo dependerá do número de obras e do volume das “pressões construtivas”.
As perspetivas são promissoras. Ou então, quem sabe, virá mais um avião da Força Aérea, carregado de agentes da PJ. Nem que seja só para dar um passeio panorâmico sobre o betão da capital madeirense.
No Funchal, como se vê, “sempre melhor” continua a rimar perigosamente com “ficar tudo na mesma”.

