A vitória nas urnas não legitima o autoritarismo
São Vicente não é propriedade de ninguém
Caros Vicentinos,
A vitória do CHEGA nas eleições autárquicas de 2025 em São Vicente, com José Carlos Gonçalves finalmente eleito Presidente da Câmara Municipal, traz consigo um vento de mudança… ou será antes de tempestade? Ao que parece, a máquina populista da extrema-direita que agora detém o poder no concelho acredita que o simples ato de vencer nas urnas lhes confere uma licença para governar com soberania absoluta. Mais grave ainda é o modo como alguns dos seus apoiantes se comportam como se São Vicente fosse agora propriedade privada de um clube restrito, onde quem se opõe a eles é automaticamente transformado em inimigo. A prepotência, o autoritarismo velado e a hostilidade com que se pretendem impôr são um retrocesso às conquistas de liberdade e justiça que tanto nos custaram. Não é por terem conquistado a Câmara Municipal que os vicentinos devem agora temer a sua própria terra.
O discurso do “agora somos nós” já ecoa nas ruas e nas redes sociais, com uma arrogância que beira o absurdo. Quem ousa criticar a liderança local ou questionar a política do CHEGA é rapidamente rotulado como inimigo do povo, uma tentativa clara de silenciar a oposição. Percebe-se aqui uma tentativa de não só monopolizar o poder, mas também de reprimir a liberdade de expressão, algo que deveria ser inaceitável num estado democrático. A tal ponto chegou a narrativa que se espalha, que já se sente o cheiro de um projeto de "ditadura popular", uma oxímoron que se tornou comum em regimes autoritários disfarçados de democracias.
E, no entanto, quem são esses novos "senhores de São Vicente"? José Carlos Gonçalves, eleito após um histórico de trocas de partido que mais parece uma busca incessante pelo "tacho" do que um compromisso com uma ideologia clara, agora se apresenta como a voz única que deve ecoar pelo concelho. E o mais surreal: se tornou “Senhor Doutor” apenas pelo simples fato de ser eleito Presidente da Câmara Municipal, como se isso lhe conferisse uma competência superior a qualquer um dos vicentinos. Quem, senão ele, é digno de ser tratado por “Doutor”? Um título que soa mais a provocação do que a qualquer mérito real. Mas é preciso ser bem claro: em São Vicente, o único "Doutor" que deve ser reconhecido é o povo. E o povo, meus amigos, não é propriedade de ninguém.
Os apoiantes do CHEGA, com suas posturas ameaçadoras e discursos acintosos, já andam a bater no peito como se o município fosse uma terra conquistada, onde se pode expulsar e calar quem discorda. Esta mentalidade de exclusividade é um exemplo clássico de populismo extremista, que tenta dividir a população entre "nós" e "eles", entre "os bons" e "os maus". Qualquer crítica ao governo local é rapidamente classificada como traição ao povo, como se o próprio José Carlos Gonçalves fosse a encarnação de São Vicente e qualquer discordância representasse um ataque ao concelho em si.
Mas é fundamental relembrar: o CHEGA não é dono de São Vicente, e nunca será. São Vicente é de todos os vicentinos, sem exceção. A vitória nas urnas, que ao fim de contas não passou de uma luta eleitoral legítima, não lhes concede o direito de se comportarem como senhores feudais, acima da crítica e do escrutínio. A democracia não é um cheque em branco para governar como quiser, sem respeitar a diversidade de opiniões e a liberdade dos cidadãos. A liberdade de expressão, garantida pela nossa Constituição, deve ser uma ferramenta poderosa contra o autoritarismo disfarçado, e não um fardo a ser controlado.
A realidade é que o CHEGA e o seu líder não estão preparados para lidar com a crítica. Já demonstraram isso inúmeras vezes: são hábeis na crítica feroz a tudo o que é "sistema", mas incapazes de aceitar qualquer tipo de avaliação negativa sobre a sua própria gestão. Essa atitude anti-democrática é uma característica típica dos regimes autoritários, onde o líder e os seus seguidores se julgam imunes à crítica, tentando fazer com que o debate público seja uma mera extensão do seu discurso oficial.
O que temos aqui é um movimento que tenta criar uma ilusão de que tudo o que fazem é perfeito e indiscutível. São os autoproclamados salvadores de São Vicente, mas sem coragem para enfrentar as dificuldades e as críticas que vêm com a responsabilidade do poder. Ao invés de se concentrarem em resolver os problemas da população e em promover a verdadeira melhoria do concelho, preferem criar um ambiente hostil onde qualquer dissidência é tratada como uma ameaça à sua autoridade.
No entanto, é preciso alertar para o seguinte: São Vicente não será governada com arrogância. Não será governada com medo. E, acima de tudo, São Vicente não será governada por um partido que se julga acima de todos. O povo que os elegeu é o mesmo povo que pode, mais tarde, rejeitar e derrubar este modelo autoritário. A democracia não é uma via de mão única. Os vicentinos não devem se sentir constrangidos a viver sob um regime de medo ou subserviência. A verdadeira força da democracia reside na sua capacidade de permitir o questionamento, a crítica e a mudança.
Portanto, é hora de nos levantarmos contra qualquer tentativa de subverter a liberdade conquistada. A democracia exige debate, exige troca de ideias e, acima de tudo, exige respeito. O CHEGA precisa entender que a sua vitória eleitoral não os coloca acima de São Vicente e, muito menos, dos vicentinos. Eles estão lá para servir a todos, e não para perseguir os descontentes, nem para silenciar quem ousa criticar. São Vicente, como todos os concelhos de Portugal, deve ser um espaço de liberdade, de pluralidade e de respeito pelas diferenças.
Aos apoiantes do CHEGA, fica o recado: é melhor que desçam do pedestal e entendam que, apesar de terem vencido as eleições, não são senhores do concelho. São Vicente não é propriedade de ninguém. A vitória do CHEGA nas urnas não lhes confere a liberdade de se comportarem como opressores da liberdade de expressão e da diversidade de pensamentos. E é essa diversidade que nos tornará cada vez mais fortes.
Em suma, o futuro de São Vicente deve ser construído por todos, e não por um partido ou um líder que se julga imune à crítica. No verdadeiro espírito democrático, a nossa responsabilidade é continuar a lutar pela liberdade, pela justiça e pela igualdade de direitos para todos os vicentinos. O povo é quem mais ordena.
Viva São Vicente! Viva a Liberdade!