Neste domingo, a Madeira volta às urnas.
E antes de decidir o futuro, é importante olhar para o passado recente — aquele que alguns preferiam que fosse esquecido. No último mandato da Câmara Municipal do Funchal, o PSD/CDS, liderado por Pedro Calado, conquistou uma maioria absoluta. A promessa era de gestão exemplar, eficiência e transparência. O resultado foi outro: uma autarquia mergulhada em polémicas, investigações e suspeitas que abalaram a confiança dos cidadãos na política local.
Foi uma equipa que prometeu “eficiência” e entregou confusão. A composição do executivo dizia muito sobre o estilo de governação que se seguiu:
- Pedro Calado — presidente, acumulava Cultura, Desporto, Juventude, Relações Internacionais e outras pastas. O poder concentrado num só gabinete.
- Cristina Pedra — vice-presidente, responsável por Finanças, Turismo e Recursos Humanos. Uma gestão tecnocrática, fria, distante das pessoas.
- Bruno Pereira — Obras Públicas e Mobilidade. O trânsito continuou caótico, e o planeamento urbano, estagnado.
- Margarida Pocinho — Educação e Igualdade de Género. Um pelouro com boas intenções, mas pouca ação concreta.
- João Rodrigues — Urbanismo e Ordenamento. O homem das licenças e dos processos que se acumulavam.
- Nádia Coelho — Ambiente, Resíduos e Espaços Verdes. Enquanto as árvores caíam, as gruas nunca paravam.
O enredo político rapidamente virou caso policial.
A Polícia Judiciária entrou em cena com uma operação de grande escala: mais de 130 buscas e detenções que dominaram o noticiário nacional. Entre os principais visados, Pedro Calado, Avelino Farinha e Custódio Correia, suspeitos de crimes como:
- Corrupção passiva (sete vezes)
- Prevaricação
- Recebimento indevido de vantagem
- Participação económica em negócio
- Abuso de poder
- Tráfico de influência
Foi um momento histórico — pelos piores motivos. O então presidente acabou por renunciar, entregar o passaporte e ficar sujeito a termo de identidade e residência.
A “maioria absoluta” que prometia estabilidade transformou-se numa novela política e judicial. A memória é a única defesa. É legítimo que o tempo passe. Mas é perigoso quando o esquecimento toma o lugar da lembrança.
Os madeirenses têm direito à memória — não por rancor, mas por consciência. Ignorar o passado é permitir que os mesmos erros se repitam com novas caras e os mesmos vícios.
Por isso recordar, ponto por ponto, esta façanha política e administrativa que marcou negativamente o Funchal é de extrema importância.
Porque a democracia só é madura quando a memória coletiva é mais forte do que o marketing político.