H á candidatos que fazem campanha. E depois há os outros, aqueles que fazem o truque de invisibilidade mais eficaz da política moderna: estão na lista, mas ninguém dá por eles. O “candidato omisso” é uma figura curiosa, ciente que abrasa, mas não é o único, o herdeiro do Império nascido com a política é outro. Vamos ter Domingo de Ramos outra vez? Tal como Jesus, para uma entrada triunfal em Jerusalém, na política também há Paixão, Morte e Ressurreição.
Existe, como Deus, sabemos que existe, mas para aparecer em fotos é o diabo! Não fala em comícios, não dá entrevistas, não comenta nada. Está a guardar para depois de ganho... é daqueles que só se descobrem depois das eleições, quando já é tarde demais para perguntar “quem é este?”.
Durante a campanha, a imagem é sempre do cabeça de lista, o único rosto autorizado, o porta-bandeira oficial, o escudo humano para esconder a fraqueza do grupo. É ele que ocupa todos os outdoors, todos os posts, todas as câmaras. Bem, ele e aquele que tinha assuntos pessoais para tratar, mas foi e veio num instante. Uma lista reduzidos a sombras, figurantes políticos, parte da decoração.
A lógica é simples, se não mostramos a lista, ninguém a critica. E se ninguém a critica, talvez ninguém perceba o vazio que vai lá dentro. O problema é que, uma vez eleitos, os candidatos omissos aparecem, como quem sai de um esconderijo, prontos a ocupar lugares, fazer juras de serviço público e votar em silêncio durante quatro anos.
O candidato omisso é o símbolo perfeito de uma política feita de aparências, mostra-se o que convém, esconde-se o que envergonha, e conta-se com a distração do eleitor para preencher o resto.
Vocês não acham que afinal o PSD também gosta de anónimos nas listas? Pronto, fica omissos.