O perigo silencioso do populismo


O Chega e o retrocesso Democrático em Portugal.

O Chega apresenta-se como a voz dos “esquecidos”, mas o seu discurso ecoa perigos antigos. Sob a aparência de indignação moral e patriotismo, esconde-se uma agenda populista, autoritária e profundamente corrosiva para a democracia. A retórica do “povo contra o sistema” transforma os adversários políticos em inimigos da nação, substituindo o debate racional pela emoção incendiária. É a velha táctica do populismo de direita: criar medo, dividir a sociedade e captar o poder através da manipulação emocional das massas.

Na ciência política, o Chega insere-se na categoria de direita radical, um fenómeno que mistura conservadorismo social, nacionalismo económico e nativismo, servindo-se do descontentamento popular para deslegitimar as instituições democráticas. O partido recorre a uma retórica anti-elitista e anti-imigração, promovendo um nacionalismo excludente e um eurocepticismo disfarçado de soberania. Este tipo de discurso, observado em movimentos semelhantes na Europa e nos Estados Unidos, tem levado à erosão da confiança nas instituições e à normalização do autoritarismo “de rosto popular”.

O populismo de direita prospera em tempos de incerteza económica e desilusão social. Como demonstram os estudos sobre o comportamento eleitoral, quando a desigualdade aumenta e o Estado social enfraquece, surgem vozes que prometem repor a ordem e punir os “culpados”. Contudo, por detrás da retórica moralista, esconde-se uma política que despreza o pluralismo, a liberdade de imprensa e os direitos humanos, pilares essenciais da democracia liberal.

O Chega representa, por isso, mais do que uma simples opção eleitoral: é o sintoma de uma crise mais profunda, a desconfiança na política e a fragmentação do espaço público. A “democracia iliberal”, termo cunhado pelos politólogos, descreve precisamente esta tendência: regimes que mantêm eleições mas esvaziam os direitos e garantias fundamentais.

Na Madeira e no Porto Santo, onde a democracia foi conquistada com sacrifício, seria um erro histórico permitir que a frustração social fosse instrumentalizada por um discurso de ódio e simplismo. O populismo oferece respostas fáceis a problemas complexos, mas o preço da facilidade é elevado: a degradação do debate público e a lenta morte da razão.

A política deve ser o espaço da responsabilidade, não da raiva. Defender a democracia implica resistir à tentação das soluções fáceis e lembrar que o progresso não se constrói com ressentimento, mas com justiça social, conhecimento e liberdade.