F oi publicado recentemente no MO um balanço das três temporadas do ex-árbitro Emanuel Câmara (link). Este artigo é o primeiro de uma série que visa desconstruir as narrativas simbólicas que durante 12 anos procuraram doutrinar os munícipes e manter as luzes apagadas na caverna ou câmera escura do Porto Moniz.
A propaganda política sugere que medidas como a oferta de manuais, refeições e transporte escolar gratuito, bem como os incentivos monetários (bolsas e prémios) estão associados a uma redução do insucesso escolar no Porto Moniz. Os dados estatísticos indicam que a taxa de retenção e desistência (insucesso escolar) nas escolas de Porto Moniz desceu de cerca de 8,9% em 2014/2015 para aproximadamente 3% em 2023/2024. Este padrão de descida está alinhado com a evolução da taxa de insucesso escolar da Região Autónoma da Madeira (RAM). De facto, os indicadores oficiais mostram igualmente uma redução significativa das taxas de insucesso escolar (retenção e desistência) no ensino básico da RAM ao longo da última década. No ano letivo 2015/2016, a taxa de retenção/desistência no ensino básico da RAM era de 7,2% e no ano letivo 2022/2023 situou-se em 3,0%.
A ser adicionado à equação, importar sublinhar que na RAM existem diferenças entre os 11 concelhos no que respeita às taxas de insucesso escolar, verificando-se que os concelhos menos populosos tendem a apresentar taxas de retenção/desistência menores. Até 2020 verificou-se uma redução generalizada do insucesso escolar nos concelhos madeirenses menos populosos – São Vicente, Santana e Calheta alcançaram taxas de retenção/desistência muito baixas (respetivamente 1,2%, 1,7%, 1,7%), enquanto o Porto Moniz, apesar de melhorias, manteve a taxa mais elevada (3,9%) entre estes municípios.
Por fim, o mito da caverna manifesta-se através da afirmação de que os jovens de Porto Moniz estão “bem preparados” e se têm destacado no acesso ao ensino superior com notas elevadas. Em 2022, a média das classificações nos exames nacionais do concelho foi de 10,80 valores e em 2024 a média subiu para cerca de 11,45 valores. A título comparativo, as escolas da Madeira nesse ano oscilaram entre médias de 10,48 e 12,48 valores.
Ao sair da caverna, Emanuel Câmara, em busca da verdade, deveria afirmar que a grande maioria dos finalistas do secundário prossegue para licenciaturas ou cursos similares, tendo alguns alunos do concelho ingressado em cursos superiores com notas competitivas.
Estes dados e argumentos conduzem à decomposição do mito da educação praticamente gratuita do 1.º ao 12.º ano como motor do sucesso escolar no concelho do Porto Moniz.

 
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