São Vicente está (finalmente) a pensar.


... e isso é uma ótima notícia

S ão Vicente está na moda. Mas, felizmente, não é por ter sido palco de festivais ou modas passageiras. Está na moda porque se está, finalmente, a pensar. Sim, pensar. E escrever. E debater. E criticar. E isso é absolutamente extraordinário.

Depois de anos de silêncio, de uma calma pouco natural, onde o som predominante era o do conformismo e da resignação, São Vicente redescobre o valor do confronto de ideias. Não do confronto bélico ou partidário, mas do confronto saudável, crítico, democrático. E fá-lo onde deve: no espaço público, no papel e no digital, com textos, crónicas e artigos de opinião que merecem ser lidos com atenção.

É esse o poder da palavra quando liberta do medo. Quando usada não para agradar, mas para provocar reflexão. Quando não serve para ganhar aplausos fáceis, mas para sacudir consciências. E é esse o verdadeiro espírito democrático: dizer o que se pensa, com liberdade, com respeito, com coragem. A democracia não é um concurso de popularidade. Quem quer agradar a todos, devia abrir uma geladaria. Aqui, trata-se de pensar com a própria cabeça — e, mais difícil ainda, de ter a coragem de o dizer em voz alta.

Por isso, é com orgulho que vejo este despertar crítico em São Vicente. Os autores — e autoras — que têm vindo a assinar artigos no Correio da Madeira (Madeira Opina) estão a prestar um serviço público. Estão a desafiar a inércia, a questionar o status quo, a romper com o silêncio político que por demasiado tempo dominou o concelho. E, sejamos honestos, o silêncio, em política, raramente é inocente.

Mas não basta falar. É preciso ouvir. E aqui entra a maturidade democrática: a capacidade de discordar sem hostilizar, de debater sem ofender, de criticar sem destruir. Porque não há democracia sem pluralismo. E não há pluralismo sem dissenso. A verdadeira liberdade não está em dizer o que todos querem ouvir, mas em poder dizer o que muitos não querem. E é isso que começa, lentamente, a acontecer em São Vicente.

Claro que nem todos aplaudem. Há desconforto, há irritação, há reações. Ótimo sinal. Se ninguém se incomoda, é porque ninguém está a ser desafiado. E, neste momento, São Vicente está a incomodar — positivamente — outros concelhos. Porque está a dar uma lição: de liberdade, de cidadania, de maturidade democrática. E isso causa inveja. Causa cócegas no poder. Faz tremer estruturas instaladas.

Aos que escrevem, que opinam, que publicam, deixo apenas um apelo: continuem. Continuem a pensar alto, a escrever claro, a incomodar quem está demasiado confortável. Não há progresso sem crítica, nem futuro sem coragem. A liberdade não é um direito adquirido — é um exercício constante. E exige nervo, exige brio, exige resistência.

Não deixem que vos silenciem com títulos, cargos ou arrogâncias institucionais. Um título não faz um cidadão mais digno. Nem o cargo torna ninguém mais sábio. Somos todos iguais, despojados das vestes do poder, nus perante a verdade. E essa verdade não pertence a ninguém em exclusivo. É construída, tijolo a tijolo, por todos os que ousam pensar e falar.

A São Vicente, desejo pensamento crítico. Desejo debate. Desejo mais artigos, mais ideias, mais coragem. Que este movimento não seja passageiro. Que se transforme numa cultura de participação, de exigência democrática, de cidadania ativa. Que os textos não sejam meros desabafos momentâneos, mas ferramentas de transformação.

Aos leitores, autores, gestores e contribuidores do Madeira Opina deixo uma palavra de reconhecimento. Estão a prestar um serviço à liberdade. Estão a devolver a voz ao concelho. Estão a acender luzes onde durante demasiado tempo houve sombra. E isso, por si só, já é um acto de resistência.

Não desistam. Não recuem. Não baixem os braços. Continuem a escrever, a opinar, a pensar. Porque, enquanto o fizerem, São Vicente continuará viva, inquieta, vibrante — como qualquer terra verdadeiramente livre deve ser.


Nota do MO: cuidado com as doses...