Tranquilidade ou controlo? A questão das auditorias em São Vicente


M iguel Albuquerque reconheceu recentemente que o PSD perdeu a Câmara Municipal de São Vicente devido a desentendimentos internos entre os militantes locais. Esta admissão, ainda que rara num contexto político onde as culpas costumam ser externalizadas, vem acompanhada de uma outra declaração que merece reflexão: a sua tranquilidade perante a auditoria pedida pelo novo presidente da câmara, José Carlos Gonçalves, eleito pelo Chega.

À primeira vista, essa tranquilidade pode ser interpretada como sinal de confiança na transparência da gestão anterior. No entanto, num contexto político em que a suspeita e o compadrio se tornaram palavras familiares, tanta serenidade levanta também uma dúvida legítima: será tranquilidade genuína ou resultado de um sistema de auditorias já “pré-controlado” por quem detém influência política e institucional?

O risco de auditorias conduzidas de forma parcial é real — sobretudo quando estas dependem de entidades ou técnicos com ligações diretas ou indiretas ao partido auditado. Assim, a credibilidade dos resultados torna-se vulnerável, e a perceção pública de justiça e rigor é comprometida. Num cenário em que a transparência deveria ser o pilar da democracia local, qualquer sombra de controlo político é suficiente para minar a confiança dos cidadãos.

Por isso Miguelinho que tal uma Primeira auditoria interna, conduzida por uma entidade pública regional, como acontece atualmente; depois uma Segunda auditoria independente, contratada a uma empresa privada de renome, sem ligações partidárias nem contratos prévios com o município e ainda uma Terceira auditoria cruzada, realizada por uma instituição académica ou por uma entidade de fiscalização nacional (como o Tribunal de Contas), que serviria para validar ou contestar eventuais discrepâncias entre as anteriores.

Este modelo de “auditoria tripla” reforçaria a transparência e reduziria drasticamente a possibilidade de manipulação política dos resultados. Mais do que uma questão técnica, trata-se de restaurar a confiança dos cidadãos nas instituições — confiança essa que, em muitos casos, é o verdadeiro bem perdido nas urnas.

Em política, a tranquilidade é desejável. Mas quando o silêncio é demasiado sereno diante de uma investigação, talvez o que se ouça não seja calma, mas controlo.

O episodio do Pedro Calado e a Câmara do Funchal faz desconfiar de tudo caro Miguel. É esse o teu legado na Madeira, a destruição gradual da democracia.