C arlos Rodrigues, conhecido pelas suas declarações dignas de um filme de ação submarina, “levar pessoas ao fundo do mar”, parece ter encontrado finalmente o seu habitat natural: as profundezas das finanças da Câmara do Funchal. Ironias da política madeirense, onde quem ameaça afundar outros acaba sempre por ser promovido a comandante do navio.
Agora, como novo vereador das finanças, Rodrigues terá nas mãos o leme de uma embarcação municipal que, nos últimos anos, já navegava em mares revoltos. Mas desta vez há um detalhe curioso: a empresa do pai, que tão diligentemente trabalha com o município, vai certamente ter “bastante trabalho”. Pura coincidência, claro, como sempre nestas ilhas onde o nepotismo é apenas uma palavra estrangeira.
É comovente ver como a política local consegue transformar potenciais conflitos de interesse em oportunidades de gestão familiar. Afinal, quem melhor para tratar das contas públicas do que alguém cuja família já tem experiência direta em receber contratos públicos? É o que se pode chamar sinergia doméstica — um modelo de eficiência que nem o FMI ousaria imaginar.
Mas há que reconhecer: Carlos Rodrigues tem talento. Num arquipélago onde muitos políticos tentam disfarçar intenções, ele é, ao menos, transparente, como a água do mar onde promete afundar os seus adversários. E essa honestidade brutal, ainda que envolta em arrogância, talvez explique a sua ascensão meteórica. Numa política feita de aparências, ele prefere o mergulho direto.
A pergunta que fica é simples: quem vai fiscalizar quem? Quando o responsável pelas finanças tem ligações diretas a interesses privados familiares, o risco de confundir o cofre público com o cofre de casa é demasiado grande. E, como bem sabemos, quando se trata de mergulhos financeiros, o problema não é entrar na água, é saber quem paga o resgate.
Por isso, talvez fosse prudente equipar o Funchal com coletes salva-vidas administrativos. Porque se a história se repetir, o navio da transparência pode voltar a afundar — e, desta vez, não por acidente.