Ataque à Venezuela e debandada para a Madeira?


D evagarinho vamos vendo a armada americana se posicionando perto da Venezuela e não vejo na Madeira ninguém a falar disto. É uma questão pertinente e que tem gerado grande tensão e debate entre analistas de política internacional. Os EUA vão atacar a Venezuela? A movimentação de navios de guerra dos EUA, incluindo o porta-aviões USS Gerald R. Ford, para o Mar do Caribe é um claro sinal de escalada de pressão sobre o regime de Nicolás Maduro, utilizando o combate ao narcotráfico como justificação oficial.

Nesta coisa de ataques é difícil de dissimular os meios, por isso só se podem socorrer da narrativa, há uma distinção entre o discurso oficial e os prováveis objetivos geopolíticos. O governo dos EUA acusa formalmente Nicolás Maduro de narcoterrorismo e usa o combate aos cartéis de drogas como o pretexto para o aumento da presença militar e a realização de ataques aéreos contra embarcações nas Caraíbas. Quanto a mim, a verdadeira motivação é geoeconómica e política. A Venezuela possui a maior reserva de petróleo do mundo, e a instabilidade do país, juntamente com o seu alinhamento com potências como a Rússia e a China, representa um desafio à hegemonia e aos interesses dos EUA na região. A Venezuela tem tudo para ser atacada e Nicolás Maduro com as suas negociatas põem-se a jeito.

Mas será que o envio de uma frota tão poderosa, que é excessiva para uma missão puramente antidrogas, é afinal uma guerra psicológica e uma forte intimidação ao regime de Maduro, ou é mesmo para atacar território venezuelano? Quanto a mim, EUA, comunidade internacional ocidental e muitos venezuelanos querem o mesmo objetivo final de Washington, a mudança de regime. O narcotráfico é real mas medindo as forças acaba como pretexto do narcotráfico, uma forma de criar um casus belli (motivo de guerra), como já aconteceu em outros conflitos internacionais.

Acredito que vai haver ataques cirúrgicos, os EUA podem continuar e intensificar ataques aéreos ou com drones contra rotas e embarcações de tráfico, e talvez incursões cirúrgicas ("blitzkrieg") para tentar capturar ou eliminar a liderança de Maduro (decapitação), evitando uma ocupação terrestre prolongada e custosa. Ao contrário da Rússia, que vê nos seus militares como carne para canhão, nos EUA a opinião pública já mostra não estar com Trump, internamente, e mais uma guerra (para quem queria o Nobel da Paz) com mortos americanos não é credível. Creio numa estratégia de erosão, manter a pressão através de sanções calibradas, reforço do isolamento internacional e uma forte presença militar para dissuasão ativa e intimidação. Começar a cortar o que alimenta o regime (tipo sanções).

Mas nunca se sabe o que pode acontecer e contagiar para pior o cenário imaginado. A Rússia pensava que era um passeio de duas semanas na Ucrânia e vai em 3 anos. Um incidente tático (por exemplo, um abate de aeronave militar ou um erro de cálculo) poderia ser usado como o catalisador para uma incursão militar direta e limitada das Forças de Operações Especiais, com o objetivo de depor Maduro rapidamente. No entanto, este cenário acarreta um risco elevado de contágio para países vizinhos (como a Colômbia e a Guiana), intensificação da crise humanitária (mais migração) e até o envolvimento indireto de aliados da Venezuela (Rússia, China, Irão).

Não acredito que uma invasão em larga escala será opção, os EUA não desejam devido aos elevados custos humanos e financeiros, e a instabilidade regional que provocaria. A aposta principal vai ser a pressão máxima e em ações cirúrgicas para desestabilizar o regime por dentro.

E nós por cá? Neste superavit de gente sem sentido, estamos preparados para uma debandada? Já consumimos toda a sustentabilidade, estamos em insustentabilidade, característica de quem quer comer tudo de uma vez e esquece que não vive sozinho...