A mensagem que nos querem vender — que a Madeira está “a rebentar” por causa dos turistas — é um conto simplista para esconder incompetência. Quem aponta dedos aos visitantes evita olhar para aquilo que realmente falta: planeamento, regras claras e fiscalização eficaz. Dizer que o problema é apenas “grande entrada de turistas” é recusar olhar para os dados e para as soluções óbvias.
A Madeira recebeu, em 2024, mais de 2,2 milhões de hóspedes e 11,7 milhões de dormidas; são números a ter em conta, não slogans. Ainda assim, em comparação com outros arquipélagos, os fluxos são moderados — não justificam a dramatização política.
O comentário que faz circular acusações, mistura nomes e fabrica inimigos. É um texto de guerrilha política, não uma análise. Utiliza conceitos vagos — “genocídio”, “invasão”, “branqueamento de capitais” — como se isso resolvesse falta de política pública. Esta retórica serve para mobilizar a raiva, não para propor soluções. E raiva sem proposta é demolição, não é governação.
Se o alojamento local pressiona o mercado, então regule-se o alojamento local. Se faltam casas para jovens e famílias, façam-se políticas de habitação com dentes: limites, incentivos à construção social, impostos que penalizem o especulador, apoios a quem aqui vive. Se há estacionamento selvagem, construam-se parques; se há lixo, aumente-se a fiscalização e as coimas; se existem trilhos perigosos, invistam-se em segurança. Soluções técnicas e políticas existem — o que falta é vontade política.
Atacar o jornalista X, ou o político Y, não altera a realidade: ou se planeia, ou se ocupa. Chamar “populista” a quem aponta problemas reais é uma tática de desvio. A crítica legítima ao modelo económico não é crime; é um sinal de saúde democrática. Mas a crítica deve ser séria: com factos, com medidas, com cronogramas.
Por fim: amar a Madeira não é odiar o turista. Amar a Madeira é defender o emprego familiar, as micro-empresas de alojamento local, a cultura e o espaço público. É também, e sobretudo, exigir aos decisores que se assemelhem a gestores e não a vendedores de imagem. Exigir planeamento não é ser anti-turista — é salvar o futuro da ilha.
