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Boa noite, fui autor deste texto "Eduardo Jesus é incompetente, manhã de chuva mostrou tudo na rede viária" (link), o qual recebeu este comentário do perfil José Barbosa:
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| Link da publicação do comentário. |
Exm.º Senhor José Barbosa,
A sua intervenção, marcada por um tom desvalorizador e um apelo ao ataque pessoal (“verifiques que não trocaste as pastilhas”), demonstra uma notável incapacidade de apreender a essência do problema que descrevi. Não é surpresa, contudo, que tal compreensão lhe falhe.
Não espero, de facto, que alguém com interesses diretos e evidentes no setor do incoming e das agências de viagens compreenda a dimensão do meu desabafo. No seu "Deve e Haver" contabilístico, o saldo positivo gerado pela massificação turística é, aparentemente, suficiente para tolerar e ignorar todos os efeitos colaterais nefastos que esta mesma política impõe à vida quotidiana, à mobilidade e à qualidade de vida dos madeirenses, conforme amplamente narrei (link).
Permita-me que o corrija, a minha experiência desta manhã não é um mero capricho, mas sim a pior vivência registada num trajeto que percorro há décadas. Por isso, dispenso a sua condescendência e a tentativa de me fazer passar por tolo ou desorientado.
O cerne da questão é que o Funchal vive hoje a dois ritmos manifestamente incompatíveis:
- O ritmo do lazer, da contemplação e, sobretudo, da inaptidão e desorientação de condutores em viaturas de rent-a-car, muitas vezes grandes SUVs que estrangulam o nosso limitado espaço viário.
- O ritmo da população local, que luta diariamente para manter as suas rotinas, cumprir horários de trabalho e garantir o mínimo de qualidade de vida.
O turismo na Madeira é secular. Eu conheci o Funchal antes e depois desta loucura da massificação impulsionada pela política de “turismo a todo o custo”. Sei perfeitamente o que era o tempo do bom turismo, que convivia harmoniosamente, sem nos molestar, inflacionar, privar ou colocar de lado.
Eu já alterei as minhas rotinas, saindo de casa mais cedo para tentar mitigar a incompetência da gestão da mobilidade e este constante enfiar de mais carros na região para alimentar a massificação do turismo. A sua sugestão implícita é que devo levar um saco-cama para o trabalho? Esta cidade não comporta mais alojamentos locais e hotéis de cidade com carros de rent-a-car a açambarcar os estacionamentos e rede viária. Estão a testar os limites da tolerância?
O problema é sistémico, moro num bloco de apartamentos invadido por trolleys diariamente. Com a massificação, a convivência torna-se insustentável e a tolerância diminui, especialmente para quem, como eu, tem uma criança e vê a tranquilidade e segurança do seu lar serem constantemente atropeladas pela falta de civismo e desorganização. Saio à rua e vejo o mesmo, é impossível não ver tantos carros de rent-a-car que vivem a nossa vida por conta dos Alojamentos Locais que estão por todo lado.
Poupe-me os comentários sobre o meu azedume e, em vez de recorrer a insinuações, talvez devesse refletir seriamente sobre as consequências ambientais, éticas e sociais do negócio que defende.
Vá tomar o seu Gin, se assim o desejar, mas utilize esse momento para repensar profundamente no que disse e no preço que a população local está a pagar para que o seu setor prospere sem freios. A Madeira qualquer dia é de turistas que tomaram conta da ilha, servidos por estrangeiros, os madeirenses desapareceram para outro lugar onde possa simplesmente viver e conviver.
Com os melhores cumprimentos.

