Eduardo Jesus consegue fazer pior do que no Subsídio Social de Mobilidade


Mobilidade não é com Eduardo Jesus.

A partir de 1 de janeiro de 2026, todos os 42 percursos recomendados da Madeira vão exigir inscrição prévia, organizada em slots de 30 minutos. Os residentes da Madeira não pagam, mas também têm de se inscrever para usar os percursos.

O objetivo é controlar a carga turística nos trilhos, garantindo que não há excesso de pessoas e protegendo o ambiente. Para os madeirenses, haverá:

  • Acesso gratuito, desde que façam a inscrição.
  • Sistema uniforme para todos, residentes e visitantes, apenas com a diferença de que os turistas poderão pagar tarifas. Os madeirenses vão nos grupos dos slots e não quando querem.
  • A necessidade de usar o Cartão de Residente para validar a isenção.

O que muda, na prática, para os madeirenses?

Antes, um madeirense decidia: “Hoje está sol, vamos à Levada das 25 Fontes?” Pegava no carro e ia. Agora isso deixa de existir.

A partir de 2026:

  • Já não se vai quando apetece, vai-se quando houver vaga.
  • Mesmo sendo residente e não pagando, os madeirenses dependem da marcação.
  • Se acordarem num domingo de bom tempo e lhes apetecer ir à serra, pode simplesmente não haver slot disponível porque os turistas reservaram com semanas de antecedência, grupos organizados preencheram metade das vagas, ou o horário que podiam ir ficou lotado.
  • Grupos de amigos e famílias podem ser divididos

Resultado:

  • A espontaneidade desaparece.
  • A serra passa a funcionar como um restaurante popular ao sábado: ou reservas, ou ficas à porta.

A meteorologia pode estragar tudo, mas não suspende a reserva, ou suspende com os alertas? E vai com mau tempo porque não há remédio? A decisão passa a ser “ou arrisco ou perco”. A natureza deixa de ser um espaço totalmente livre e passa a obedecer ao calendário digital.

As caminhadas em grupo tornam-se burocráticas. Antes, um grupo de familiares decidia de manhã ir à serra. Agora, cada um precisa de:

  • criar conta,
  • fazer reserva,
  • garantir que todos conseguem lugar no mesmo slot.
  • Se alguém se atrasar a reservar, pode ficar fora e o grupo já não vai unido.
  • Espontaneidade social reduzida.

Existe o conflito entre o “direito de residência” e a prioridade turística, mesmo com isenção, os madeirenses passam a competir por vagas com turistas individuais, excursões, grupos organizados, operadores que reservam grandes blocos. O que é gratuito não é necessariamente acessível. Podes não pagar, mas também podes não conseguir ir. Em percursos muito populares, pode tornar-se difícil reservar nos dias de folga “típicos”, como domingos ou feriados. Vai haver um assalto com meses de antecedência aos lugares.

A lógica do sistema é tratar todos de forma igual, em termos de controlo de fluxo. Isto significa que os locais já não são “donos da casa” na prática. A serra deixa de ser totalmente livre e acessível sem planificação. A experiência de quem usa a natureza desde sempre passa a seguir regras de capacidade definidas por um algoritmo de gestão. Há quem veja vantagens (menos confusão, mais segurança), mas na vida prática do madeirense comum isto significa que, a relação natural e espontânea com o território fica condicionada.

Se algo corre mal no dia… não há plano B. Se o carro avaria, se a criança adoece, se tens um imprevisto de trabalho, a reserva perde-se. E nos percursos mais populares, talvez só haja vaga semanas depois.

A dependência tecnológica marginaliza os idosos que mais conhecem a serra, os muitos residentes mais velhos, que não têm smartphone, não estão habituados a apps, não usam internet com facilidade. O sistema de reservas pode criar barreiras reais. Um percurso que sempre foi simples, agora tem um “portão digital”.

O sistema cria desigualdade entre quem trabalha em horários normais e quem trabalha por turnos. Os madeirenses que trabalham no turismo, hotelaria, restauração, saúde, aeroportos, entre outros, têm folgas irregulares, ficam automaticamente prejudicados no acesso à própria ilha.

Haverá um impacto silencioso nos hábitos culturais. A ida à serra é parte da identidade madeirense, quase ritual, ver levadas, apanhar ar puro, desligar da cidade. Quando o acesso deixa de ser imediato, isso afeta o uso do território, o bem-estar, o sentimento de pertença. A serra deixa de ser “nossa” para ser “gerida”.

A serra deixa de estar sempre aberta para quem vive aqui, passa a estar aberta quando o sistema deixar. A serra, com este sistema, depois é transferida para privados fazerem dinheiro e tratarem os madeirenses com os tratam nalguns hotéis e esplanadas? O madeirense será uma ameaça aos lugares para aqueles que lucram com o turismo de massas?