Estão a criar as condições para vender as Grutas de São Vicente?


N um dia onde o CM é dominado pelo programa de TV das jaulas de douradas, onde se viu que quando deixam a oposição falar permite-se o debate com outros argumentos válidos, esclarecedores e pragmáticos (parabéns a Célia Pessegueiro), venho falar do concelho de São Vicente que, por sorte, ninguém quer meter jaulas, não tem mar para isso, mas que em breve vai receber obras que deixam a natureza "altamente impactada", segundo a terminologia do técnico do Governo Regional Carlos Andrade. Falo do Caminho das Ginjas e da frente mar de São Vicente.

O que tem São Vicente para oferecer como atrações turísticas e qual o seu estado? O concelho oferece natureza intacta, será? Pelo menos é assim que se deseja para um cartaz. Nunca veremos o futuro Caminho das Ginjas ou a futura betonada frente mar de São Vicente a constar como cartaz, a menos que apareçam os espezinhadores da razão e do bom senso.

As atrações turísticas, para além das caminhadas na natureza, não são muitas e lamentavelmente, antes e depois da massificação pautam-se pelo descuido, desprezo, quase abandono. Lembram-se do que disseram umas guias turísticas em tempos?

As grutas são (eram) a atração mais popular de São Vicente, alguns diziam até da Madeira (link), depois dedico um parágrafo sobre a minha opinião, mas também temos a Cascata da  Água d'Alto, a Capelinha do Calhau, a Capelinha de Nossa Senhora de Fátima (a do alto que parece um foguetão), naturalmente a Igreja no centro e o próprio centro (sem vida), a Rota da Cal, o Caramujo, a própria frente de costa e a paisagem que se vê. Não sei se menciono o próprio Alojamento Local pela experiência de recuperação de casas e o ambiente envolvente. A regra é esta, se depende de privados está bem, se depende da câmara está em desmazelo. E eu acho que isto traz água no bico!

A Naturnorte, Empresa Municipal de São Vicente, que gere as grutas, sempre deu lucro, tem potencial para gerar sensivelmente 400 mil euros líquidos de lucro por ano, contudo, por conta da pandemia e depois de um sismo, as grutas foram fechadas ... e continuam. Nada sobre o estudo à estrutura das grutas, coordenado pelo fiável e idóneo João Batista, viu a luz do dia, mas correm rumores de que está tudo bem e é visitável. O tempo passa como se aquela atração de São Vicente não fosse uma prioridade do concelho, o que se passa? Paralelamente, a Naturnorte mostra-se moribunda (apesar da compra So solar da Ribeira Seca do senhor Clode) e só tem contas publicadas até 2017 (link). Faltam 2018, 2019, 2020 e 2021 ... e poucos meses, a continuar, 2022. A Naturnorte não está a cumprir com a obrigatoriedade na publicação de contas como diz o Decreto-lei 135/78, de 9 de Junho (link).

Os funcionários estiveram em lay-off até o limite do tempo possível, depois voltaram ao trabalho mas pouco há para fazer. Da visita completa inicial, hoje em dia apenas se pode visitar os jardins e um centro de vulcanismo completamente desatualizado que não atrai ninguém. Já não se veem os autocarros e carros de aluguer que enchiam todos os dias o parque de estacionamento.

A pergunta persiste, porque não há urgência em ativar a atração turística e ganhar dinheiro? Há duas situações sinistras durante este tempo de encerramento, a primeira é a compra pela Naturnorte do Solar da Ribeira Seca ao senhor Clode, incentivada por Miguel Albuquerque para integrar uma rota de solares (nunca concretizada, a rota). A segunda é que usando a Lei n.º 11/90, de 5 de abril / Diário da República n.º 80/1990, Série I de 1990-04-05, páginas 1664 - 1667, no interesse da entidade pública, por estratégia ou quando a situação económico-financeira da empresa o recomende, pode-se alienar um bem público para o privado, alienar pode ser venda, troca, doação, etc. Legalmente, ao fim de três anos com prejuízo, as empresas públicas podem ser privatizadas. Perdoem-me se especulo, mas vejo aqui uma oportunidade de negócio gerada de propósito nas Grutas de São Vicente. Não estarão fechadas para além do tempo necessário para gerar as condições para a alienação e passar um lucro anual de 400 mil euro a um privado? Depois de ver aquele texto de ontem sobre São Vicente (link) senti-me incentivado a escrever o que penso.

É especulação, mas condições existem e como "confiamos" muito na idoneidade da gestão da coisa pública na Madeira, sou obrigado a temer.

Agradeço a publicação.

Enviado por Denúncia Anónima.
Quinta-feira, 5 de Janeiro de 2023
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