O Aquário Municipal e os tubarões antigos


H á muitas espécies de tubarões. Há aquela do Spielberg e muitas outras. Mesmo aqueles em sentido figurado, que escapam à denominação latino-científica. O "somniosus microcephalus" ou o denominado tubarão da Gronelândia é considerado o animal com a maior esperança de vida, não tanto como aquela população geriátrica que fica plantada pelos corredores dos hospitais. As instituições públicas estão cheias desses espécimes, de cérebro pequeno e de movimentos indolentes. Contrariamente aos das águas abissais e frias, estes têm olhos bem abertos. A autarquia do Funchal por maioria de razão está repleta destas criaturas, e asseguro-lhes que a maioria nem está no Aquário Municipal em São Pedro, nem convive com a Dourada nas jaulas da aquacultura. A CMF é a única autarquia do país com um departamento de ciência. 

Há razões históricas que determinaram esta singularidade, que remontam ao final da segunda década do séc. XX, altura, em que a edilidade funchalense adquiriu o imóvel, mas, não há razões para que os munícipes do Funchal continuem ainda hoje, a suportar este custo pesado, em gerir a Estação de Biologia Marinha. Estes equipamentos e a natureza da sua atividade, é coisa própria de uma academia ou de um departamento governamental, mas não de uma autarquia.

Este departamento de ciência, não é mais do que um feudo, uma cotada, que gravita na prática um pouco fora da própria autarquia. Ter um departamento de ciência numa autarquia, para além de soar a estranho, é algo profundamente ridículo, pois pressupõe à partida um mau serviço à dita "ciência", pois uma autarquia local não produz, nem deve produzir ciência.

O acervo das coleções que estão confiadas a este departamento, tanto no Museu de História Natural na Rua da Mouraria, como a Estação de Biologia Marinha no Cais do Carvão junto ao mar, para além da importância que tem, compreende custos e "know-how"  cuja atividade não se coadunam estarem na dependência duma autarquia. Não é normal que se continue entender como normal que, uma autarquia, se deva ocupar de necropsias de espécies marinhas e laboratórios que mantenham uma estrutura pesada a precisar de avultada manutenção.

Esta situação arrasta-se há décadas, sem que haja coragem política em galvanizar aquelas estruturas, ainda que, o Museu tenha sido alvo de uma requalificação nos últimos anos,  unicamente orientada para a "história natural" com a negligência de não requalificar uma pequena capela no interior daquele antigo Palácio de São Pedro, com o conhecimento tácito da antiga DRAC, desvirtuando assim a história "cultural daquele importante imóvel".

A CMF tem um protocolo com a UMA no aproveitamento dos vários laboratórios da Estação de Biologia Marinha, mas quanto rendem aos cofres da autarquia? Será que cobre os custos de manutenção daquela estrutura a ponto de manter um conjunto de técnicos qualificados a "produzir" o quê em favor da edilidade?

É por estas questões que estas estruturas deveriam estar sob a tutela regional, ou numa tutela partilhada entre o Governo Regional e a Universidade da Madeira, até porque isso permitiria aceder a certos financiamentos de projetos que estão vedados às autarquias.

Sem prejuízo do acervo preservado por décadas, os munícipes do Funchal não têm de suportar ainda estes resquícios castrenses, completamente alheios do âmbito autárquico, que apenas beneficiam certos egos que talvez só aufiram de algum protagonismo, num "deserto" edificado à sua própria imagem e medida.

Estes tubarões permanecem incólumes à linha do tempo e até, da razão.

Enviado por Denúncia Anónima.
Terça feira, 07 de Março de 2023
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