S egundo a OMT o turismo sustentável deve ser aquele que salvaguarda o ambiente e os recursos naturais, garantindo o crescimento económico da atividade, ou seja, capaz de satisfazer as necessidades das presentes e futuras gerações. Contudo, o turismo de forma sustentável deve ser desenvolvido por todos, pois o não atendimento a essa nova realidade fará com que muitos destinos e empreendimentos estejam condenados economicamente, tendo em vista que perderão sua atratividade, em virtude dos impactos negativos causados pelo seu empreendimento.
O turismo sustentável surge como alternativa ao turismo de massa, pois tem a preocupação com a quantidade de pessoas que irão visitar as regiões recetoras. Neste sentido, o planeamento e a gestão do turismo devem estar atentos às questões ambientais, culturais e sociais, buscando minimizar os impactos da atividade e, fazendo com que os moradores locais estejam inseridos economicamente e socialmente.
As nossas estradas madeirenses são conhecidas pelas suas particulares e especificidades advindas da acidentalidade do terreno e da orografia, resultando na sua estreiteza e na profusão de curvas e contra curvas. O tráfego aumenta continuamente a olhos vistos mas as vias de circulação são as mesmas e os espaços de estacionamento também. Obviamente que a segurança e a pegada ecológica são mais-valias salutares para o bem-estar da população, para o bem-estar da ilha e daqueles que a visitam.
Nos últimos tempos tem-se presenciado a um boom retumbante de carros de aluguer a circular pelas estradas madeirenses, congestionando e contribuindo para a atenção redobrada para quem é utente da via pública. Este fenómeno vem aliado ao turismo de massas. Ao que parece, não há limites para o número destas viaturas. Infringe-se descaradamente as regras de trânsito e ao que tudo indica muitas destas viaturas estacionam sistematicamente na via pública, furtando os espaços de estacionamento dos moradores e dificultando o acesso destes às suas casas. São viaturas sem parqueamento próprio. Se compararmos com o contingente imposto por exemplo para os táxis, o mesmo já não acontece com este tipo de viaturas. O nº de licenças deveria ser imposto igual e equitativamente a todos, sem exceção. Todos contribuem para a expulsão de dióxido de carbono e para o crescente congestionamento dos exíguos espaços de estacionamento e de circulação.
Os espaços são os mesmos, porém o tráfego rodoviário aumentou vertiginosamente e há que saber como resolver as novas condicionantes. A Madeira não é elástica. Os pontos turísticos mais visitados estão sobrecarregados de carros de aluguer estacionados de forma desregrada, em contra-mão, abandonados em cima das vias de circulação impossibilitando os restantes automobilistas de circular… pois estão de férias e esquecem-se das regras de trânsito que por acaso são iguais nos seus países...Pico do Areeiro Ribeiro Frio, Santana, Baía d`Abra, Porto Moniz, Cabo Girão são exemplos flagrantes desta preocupante escalada. Muitos carros ligeiros provocam muito mais confusão rodoviária do que comparativamente um ou dois autocarros. O problema é que quem está de férias quer deixar o carro onde «der» para visitar o que intencionou, não se preocupando com a multa… que nunca chegará. Se for madeirense chega de certeza.
No Funchal tentou-se introduzir o modelo de cidade com menos carros, incentivando o recurso aos transportes públicos em autocarros por ser melhor para o ambiente, mas isso foi direcionado apenas para os madeirenses, pois ao que tudo indica os turistas podem usar os carros que quiserem e até como alojamento, se precisarem.
Cada vez mais se torna certo o receio de muitos madeirenses não poderem visitar a sua própria ilha e se o quiserem fazer terão de pagar para o fazer, assim como também está a ficar cada vez mais impossível poderem alugar ou comprar casa. Por incrível que pareça a esperança em ter casa própria dissipou-se numa questão de meses… a especulação tem indubitavelmente origem nos vistos Gold e na febre dos AL. A sustentabilidade do turismo já peca por aqui.
O futuro não é risonho e muito menos promissor. É imperativo e necessário saber gerir, observar e estar atento, corrigir e estudar soluções. As infraestruturas são praticamente as mesmas, contudo a quantidade de turistas a entrar na Madeira, a estacionar e a circular nas nossas estradas continua a aumentar de dia para dia. Vivenciamos escandalosamente na pele a «política do desenrasque» e do «lucro não importa o quê» de certas entidades «umbiguistas» quer privadas ou governamentais, que só olham para o seu umbigo e vão comprometendo o bem-estar dos restantes … e ainda se tem a ousadia de falar em pegada ecológica, em sustentabilidade do turismo e a audácia em enaltecer o excelente trabalho da promoção da ilha… Foi para isto que se promoveu a ilha? Porque é que temos a sensação que esta promoção despromoveu a qualidade de vida na ilha?
É primordial que se entenda até que ponto a nossa ilha conseguirá comportar o tipo de turismo que se tem vindo a evidenciar por cá. Precisamos mesmo de turistas a dormir nos carros, das tendas nas praias, nas serras, no aeroporto? Precisamos deste tipo de turista que faz fogueiras nas zonas protegidas? E o risco de incêndio já não interessa? A nossa Laurissilva já não está sob a proteção da Unesco? Precisamos deste tipo de turista que se lava nas cascatas? Precisamos destes turistas de supermercado e de sandes? Não esqueçamos que o nosso turismo tradicional que nos foi tão fiel durante décadas sempre regressou à ilha todos os anos apenas e tão somente pela qualidade do destino, mas infelizmente muitos já manifestam repúdio pelo turismo de massas que se está a viver na Madeira. Muitos não reconhecem a ilha de outrora e não vão regressar. É justo trocar o turismo de qualidade pelo turismo low cost? Manter ambos não é possível, pois o low cost aniquila tudo, arrasa a qualidade de vida dos residentes e afasta o turista sénior e tradicional que procura paz e qualidade. E nós residentes também temos direito a essa qualidade.
Não importa os números nem quantidades, o que importa é a qualidade que sobrevive ao longo dos anos, como aliás se provou até à atualidade. Para nossa infelicidade o nosso governo quer números, muitas entradas e lucro fácil. Esse é um estratagema muito perigoso o qual já está a comprometer o destino Madeira. Mais vale ter pouco de bom e tê-lo durante muito tempo do que ter muito de nada por tempo e com os dias contados.
É importante que como excelentes anfitriões que somos saibamos arrumar a nossa estimada casa e saibamos selecionar os nossos convidados, convidados que não estraguem a nossa casa para podermos continuar a ser um destino apelativo por muitos e muitos anos. Infelizmente a nossa casa está a ficar “apertadinha” e superlotada de visitantes que não interessam, os quais apenas deixam para trás lixo, fogueiras e os cartões a pedir boleia para o Funchal… porque o aerobus é muito caro (5 € com direito a mala).
A partir do momento em que a ilha deixe de ser um destino atrativo, todos nós iremos senti-lo na pele, até mesmo aqueles que insistem em extrair o máximo que podem da ilha no mais curto espaço de tempo, somando ganhos imediatos e fazendo deste um reles destino turístico de massas. O cliché da «galinha dos ovos de ouro» já está doente e a qualidade do nosso destino já está há muito penhorada… e mesmo assim continua-se a depenar a galinha. Uma galinha depenada deixará de ser atrativa e a sua imagem no espelho será fatalmente suficiente para que, com o susto, deixe de produzir ovos de ouro.
Enviado por Denúncia Anónima.
Domingo, 23 de Abril de 2023
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