O Óscar e a Caça às Bruxas


“No creo en brujas, pero que las hay, las hay.” 

É uma frase muito conhecida por todos nós, traduzida para a língua de Camões fica algo como: “Eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem”! Pessoalmente, eu não acredito em bruxas. Sei que existem, mas não acredito nos seus talentos. Sei também que existem muitas bruxas, e também muitos bruxos, aqui nesta ilha. E também sei que há quem acredite nos talentos dessas bruxas e bruxos que nesta ilham habitam. 

Mas olvidemos as artes negras para observar factos, praticando uma científica caça às bruxas e a outros mitos.

Mito nº. 1 – Choveu mais durante o Óscar do que no 20 de fevereiro!

Provavelmente a única verdade que foi comunicada por qualquer autoridade madeirense no último ano. É verdade que o Óscar trouxe mais chuva do que o 20 de fevereiro. 

No entanto, essa verdade vem com pimenta na língua. O Óscar trouxe mais chuva, sim, mas o 20 de fevereiro foi o culminar de um inverno muito chuvoso. Os solos, especialmente em zonas montanhosas, estavam muito mais saturados e, portanto, menos capazes de absorver o dilúvio através da infiltração. Infiltração? Que é isso? Pois, não convém ninguém falar sobre isso… Os milhões gastos precisam ser justificados.

Basta comparar através de estudos que foram feitos através de imagens satélite (que juro não serem bruxaria). O 20 de fevereiro trouxe muitos mais deslizamentos de terra, consequentemente mais destruição. O Óscar veio no início de um verão de um ano de seca, o solo absorveu a água e a terra mal deslizou. Não há comparação possível.

Mito nº. 2 - O Betão salvou a região!

Ora, dado que nem houve qualquer inundação, muito menos aluvião, a região não precisou ser salva. Portanto este mito é mentira. Pior, o Betão já mostrou estragos, a ser facilmente descascado com muitas das ribeiras do nosso Funchal, sem capacidade da tal infiltração devido à louca Betonização, a escassos centímetros de transbordar, mesmo sem grande número de deslizamentos de terra. E por falar nos poucos deslizamentos de terra, as autoridades regionais e municipais proclamam a salvação do Betão, quando temos quase meia centena de desalojados? Menosprezar aqueles que perderam tudo para clamar vitórias políticas e capturar votos? Será que se um Óscar no pico do inverno causar Aluvião com A maiúsculo o PSD fará campanha da meia centena de mortos que se adivinha? “Podiam ser mais, não fosse o betão!”

Mito nº. 3 – As autoridades estiveram bem perante o Óscar!

Este é meia-verdade. Estiveram bem durante. Mal antes e mal depois. Horas antes as escolas foram fechadas às três pancadas deixando os pais, como eu, sem saberem o que fazer aos filhos.  Depois fizeram campanha durante os estragos, mesmo a brincar com a vida do povo. 

Tratados os mitos agora vamos aos factos.

O Óscar veio no verão, não no inverno, e ainda bem, teria sido catastrófico. Mas uma tempestade assim no início do verão? É o aquecimento global. Mas o aquecimento global não tem favoritos. Não há explicação para o Óscar bater todos os recordes nesta nossa ilha, e passar levezinho em Portugal Continental e Açores. Se a ciência não tem justificação, resta a bruxaria.

Ora, sei de fonte segura que após o descalabro das eleições regionais de 2019 o PSD Madeira voltou à velha prática de visitar as bruxas e bruxos que cá habitam. Não os chamo madeirenses porque não o são no coração, e mesmo no cartão do cidadão… Algumas vêm da Venezuela, outros do Brasil, mas a mais “poderosa” tem a sua venda em São Roque.

Essa minha fonte, dissidente interno do partido, afastado das listas nas mesmas eleições de 2019, indica que após o acidente do Monte os Renovadinhos se afastaram das artes negras. “O Livro de São Cipriano tanto mata com o feitiço como mata o feiticeiro.” Uma frase que nunca esqueci. No entanto, com efeito real ou não, o PSD Madeira voltou a ser cliente de bruxas e bruxos, numa tentativa de travar a oposição. 

Da mesma fonte segura tenho mais duas revelações. A primeira é cómica, a segunda é trágica. 

A cómica é que o Secretário Regional da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Humberto Vasconcelos, correu muito recentemente a São Vicente para ir a uma bruxa “que até é moça e jeitosinha” e pedir os seus favores. O Sr. Humberto certamente não se esqueceu do quão eficiente é a bruxaria nesse concelho, desde as ajudas ao Alberto João Jardim até aos feitiços contra ele manifestados aquando do desentendimento entre os dois. No entanto, comicamente, desta vez recorreu à bruxinha para se defender do Mau Olhado após a participação no Preço Certo regional. Quem tem cu tem medo.

A segunda é trágica, da qual não me arrisco a indicar nomes, é que dois pesos pesados do PSD Madeira correram à bruxa de São Roque, essa velha e nada bem feitinha, assim que ouviram da chegada do Óscar. Levaram desde prata a figuras de Nossa Senhora e mantos do Espírito Santo. Mas não levaram boas intenções, em vez de pedirem um Óscar mais fraco, pediram uma tempestade nunca vista. Uma tempestade pior do que a do 20 de fevereiro…

Nesses obscuros círculos internos do partido a ideia era clara. “Ou o betão aguenta e vencemos as eleições, ou fazemos campanha entre os destroços e os mortos, como em 2010.” Ao que outro responde: “Em 2010 foi o Miguel, em 2023 será o Pedro!”

Felizmente para os madeirenses, as bruxas que existem não têm habilidades supernaturais. O Óscar veio forte, como o PSD Madeira, e só o PSD Madeira, desejava. Mas a ciência não cede à bruxaria, e a terra não deslizou. Infelizmente para os madeirenses, a ineficácia da bruxa permite ao PSD Madeira correr aos media a dizer que o betão salvou a região. O PSD Madeira sem escrúpulos caminha assim para mais uma vitória nas eleições. 

Hugo Caldeira

Enviado por Denúncia Anónima.
Quinta-feira, 8 de Junho de 2023
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