A queda do entretenimento hoteleiro no "Mónaco dos Pobres"


A decadência de valores de toda a espécie é um facto inegável nos dias que correm, e a área do entretenimento não foge a essa triste regra. Nunca atravessamos um período tão negro, depois do auge vivido nas décadas 70, 80 e parte dos anos 90.

Comecemos por analisar o espaço que deveria ser o expoente máximo do entretenimento das noites da Madeira: o Casino da Madeira. Este espaço foi inaugurado a 1 de agosto de 1979, no Complexo “Casino Park”, propriedade da família António Xavier Barreto, presidida por José de Jesus Barreto. Com um conceito inovador para a época, ia ao encontro daquilo que o arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer projetou para o local. 

Nos seus primórdios, e durante alguns anos, havia shows diários de elevada qualidade: duas bandas residentes, Zenith e Tony Amaral Jr. (com Sérgio Borges como cantor), bem como um ballet diário e um artista internacional.

Depois foi vendido à Cadeia Carlton, que manteve os moldes, e posteriormente, em 1986, foi parar às mãos do Grupo Pestana, e a pouco e pouco começaram as alterações pirosas. No início da década de 90 mudaram o nome da fabulosa boate Zodíaco para Baccara (um jogo de cartas) e depois, em 1998 converteram no foleiríssimo Copacabana (coisas de hoteleiro), que desvirtuou completamente o conceito inicial.

Com o passar dos anos, o entretenimento foi definhando neste espaço, e agora pouco ou nada resta. Resume-se apenas ao jogo todos os dias, a discoteca Copacabana às sextas, sábados e vésperas de feriados e o Restaurante Baía reduzido a um show com música ao vivo às quintas-feiras.

Consultando a legislação portuguesa, DL n.º 422/89, de 02 de dezembro, Artigo 16, referente a “Obrigações de índole turística”, alínea b, diz o seguinte: 

“Fazer executar regularmente no casino, nas dependências para tal destinadas, programas de animação de bom nível artístico”.

Para os leigos na matéria, segundo a lei portuguesa os Casinos, são obrigados a ter show diário, bem como banda residente, e as unidades hoteleiras de 5 estrelas banda residente, mas aqui na Madeira, onde o Dr. Dionísio Pestana está claramente envolvido com o jogo do poder político isso não acontece, por isso faz o que bem quer e entende sem que ninguém tome uma posição.

O escândalo atinge tal escala, que ao longo dos anos apareceram propostas para abertura de outros Casinos, e o Governo Regional nunca deixou. Até chegou ao cúmulo do administrador do Grupo Pestana, o Dr. Luigi Valle, o braço direito do Dr. Dionísio Pestana vir a público criticar os jogos online, dizendo que os mesmo deviam acabar, para apenas dar primazia aos jogos do Casino concessionado ao seu patrão. Isto nem na Coreia do Norte.

Muitos dos turistas que nos visitam, com uma noção clara do entretenimento que se faz por esse mundo fora, apanham uma decepção do tamanho do espaço geográfico que estão visitando, quando chegam a este pardieiro, e deparam-se com um espaço despido de conceito.

Com a saída da Dra. Carlota Cavaco em 2017, e entrada do diretor-geral ****** ******, acentuou-se a incompetência, e tanto ele como o novo diretor artístico, ****** ***** tratam os artistas como se fossem algo descartável, e quando necessitam que algum vá atuar a este espaço, tem de ser tudo pelos valores que eles querem. Resquícios de má memória que ficaram da anterior gestão do entretenimento a cargo dum conhecido músico malabarista da nossa praça. 

A primeira medida do senhor diretor ****** que numa entrevista se considera um inovador, que “não gosta de comodismo e monotonia”, que diz ter “uma perspetiva diferenciada de grande parte dos gestores de casino”, e prova “a eficiência” e apresenta “resultados” foi reduzir os poucos shows do Restaurante Baía a apenas um dia, quando devia fazer cumprir a lei estabelecida para estes espaços, a mesma que foi referida acima neste texto. 

Esse mesmo diretor que disse em entrevista disse o seguinte:

“Nos meus tempos livres, também gosto de estudar, ler revistas da especialidade e viajar por países onde os casinos são representativos, como Espanha, Grécia, Itália, entre outros. Gosto de visitar cidades de jogo como Las Vegas, para poder ‘beber’, ou seja, redimensionar o que vemos e ajustar ao nosso espaço, realidade e dimensão. Copiar bem é uma arte. Não podemos dar um passo maior que a perna, mas é bom saber ver e aproveitar o que nos pode ajudar a crescer”.

Pelos vistos parece que não aprendeu nada, nem estudando, nem lendo, nem com a possibilidade copiar os melhores, a julgar pela vergonhosa gestão que faz do Casino da Madeira, onde vai ganhar entre os seus pares e colaboradores o título do pior diretor geral de sempre. 

Mas, não tenham ilusões, não é só no Casino da Madeira, isto estende-se a todos as unidades hoteleiras do Grupo Pestana, que enfrentam a sua “Queda do Império Romano”, que não primam pelo serviço de qualidade, não há a mínima preocupação pelo entretenimento, e tem à frente diretores artísticos como um, que já não se encontra no grupo, que confidenciou a um conhecido pianista da nossa praça “eu não quero saber o que os clientes querem”. A negligência e incompetência nesta área atingiu patamares impensáveis, e assola este e outros grupos que proliferam na região.

Se fizermos um circuito pelas unidades hoteleiras, numa grande parte, encontramos diretores autoritários sem visão da área, chefes incompetentes, responsáveis da animação e músicos armados em empresários, pagamentos atrasados (há relatos de dois meses ou mais para receber um cachê). E se formos falar dos hotéis a trabalhar com “all inclusive”, onde o cliente já vem com tudo pago e nada gasta é o degredo total. 

Tudo isto para depois virem os CEOS e companhia de peito cheio para os jornais regionais gabarem-se que os hotéis estão cheios, e que ganharam mais um prémio, daqueles comprados algures em algum sítio online, talvez na Líbia. Tudo muito bem orquestrado de forma a enganar os saloios e esconder esta política hoteleira de III Divisão. 

Ao nível de serviço, há hotéis, não só o Grupo Pestana, mas muitos outros onde não há categoria nenhuma, até filas de clientes no bar, uma coisa inimaginável nunca visto na história da hoteleira madeirense.

Passando por outro dos grupos mais importantes, o Grupo AFA, proprietários do Savoy Signature, temos um “Entertrainment Manager” que faz uma gestão segundo as suas vontades, suas amizades e ódios pessoais, sem capacidade de discernir quem tem qualidade de quem não tem. Apenas movido pelo seu espírito vingativo contra quem não gosta, faz o papel de dono e senhor da programação da animação deste grupo hoteleiro, conseguindo ainda ser mais incompetente que todos os anteriores em todos os aspectos.

Quem tem um comportamento que não difere muito do responsável do entretenimento do Grupo Savoy é o diretor-geral do Castanheiro Boutique Hotel, que é movido pelo caráter vingativo, colocando as suas lutas e ódios pessoais à frente dos interesses dos clientes ou da unidade que gere.

Um dos poucos grupos que ainda prima pela ótima qualidade, é o Grupo Bay, liderado pelo Dr. António Trindade, mas que não deixa de ter debaixo do seu tecto, pessoas que escondem o seu caráter maquiavélico atrás duma capa, que tapam e destapam conforme a oportunidade. Como é possível ter gente desta à frente duma área tão importante como entretenimento. O grande público desconhece, mas há casos relatados, num dos hotéis deste grupo de tentativas de assédio a artistas por parte de um responsável pela animação, tudo com a promessa dumas atuações. Era imperativo que isto chegasse aos ouvidos do CEO da empresa, um homem de classe, de valores, integro, e fosse feita uma investigação interna, com as devidas consequências. 

Até o Reid’s Palace que foi a excelência do serviço, do entretenimento, um hotel de classe mundial no tempo dos Blandy’s, atravessa uma queda aberrante, com as sucessivas vendas, que enfraqueceram claramente este espaço mítico da hoteleira portuguesa e internacional.

O Suplemento do Jornal Oficial da Região Autónoma da Madeira, de 17 de Junho de 1982, lançou uma regulamentação do trabalho para os músicos, um contrato coletivo de trabalho celebrado entre a ACIF e o Sindicato dos Músicos. Com o desaparecimento do sindicato deixou de ser aplicado, mas cujas diretivas, muitas delas acertadas deviam continuar vigentes ou pelo menos serem aplicadas pelas unidades hoteleiras, através duma diretiva do Governo Regional, que é conivente, faz de conta que nada se passa e branqueia toda esta situação.

Desde o desaparecimento da carreira regulamentada, na grande maioria dos grupos hoteleiros, quase nada disto é cumprido, não há ninguém que faça cumprir coisa nenhuma, porque não existe uma classe unida, nem sindicato, nem nada que lute pelos direitos dos artistas locais. Alguns desses mesmos artistas apenas estão concentrados na maldade, na árdua tarefa de tramar o vizinho do lado e vender-se a qualquer preço. Enquanto isto acontecer estes senhores vão continuar a reinar, intocáveis e impunes, e a fazer tudo que bem entendem neste “Mónaco dos Pobres”.

Enviado por Denúncia Anónima
Quarta-feira, 5 de Julho de 2023
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