A política e cultura administrativa regional continua a arruinar a Universidade da Madeira (UMa) e quem paga são os contribuintes! Veja-se o caso do recém-renovado curso de 1º ciclo/licenciatura em Línguas e Relações Empresariais.
Para quem não sabe, e ainda que possa soar surpreendente, a “nossa” pequena UMa foi pioneira no ensino de línguas modernas em Portugal (em particular de inglês e de alemão). A seguir à Universidade do Minho, a UMa foi a primeira instituição de ensino superior em Portugal onde se lecionaram cadeiras de linguística, literatura e cultura inglesa/norte-americana/alemã nessas línguas e não em português como se fazia nas “grandes” faculdades da nação. Também entre meados da década de 90 e da década de 2000 a UMa recebeu importantes professores e investigadores, líderes mundiais nestas áreas. Também por isso se investiu fortemente na área, concedendo-se bolsas (que é como quem diz: dinheiro dos contribuintes) a vários docentes nestas áreas para lhes pagar os doutoramentos.
Num mundo académico e empresarial onde predomina a língua inglesa, facilmente se percebe este considerável investimento. No século XXI, qualquer universidade que se queira internacionalizar precisa duma forte componente de estudos ingleses e norte-americanos, ainda para mais, se for uma instituição dum país que não tenha o inglês como língua oficial.
Infelizmente, depois de formados os professores e destes terem garantidos o seu lugar no quadro, os docentes revelaram a sua mediocridade e cessaram praticamente toda a inovação. Pior! Para além de não mais se inovar, regrediu-se, lentamente destruindo-se o que de bom já existia por causa de quezílias e rivalidades egoístas (e até mesmo intrapartidárias). E agora, acaba de se dar nova e forte machadada nesta área.
Após ter recentemente avaliado o curso de Línguas e Relações Empresariais, a Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) exigiu que o plano curricular do curso fosse reformulado, aumentando-se o número de unidades curriculares semestrais de 4 para 5, em conformidade com os restantes cursos da UMa. A tarefa ficou a cargo dos brilhantes docentes de inglês e alemão (cujos salários o contribuinte paga!).
O resultado desta reformulação? A pior versão de sempre deste curso! Um plano de curso incoerente que não fornece aos alunos uma formação nem holística nem especializada na área que pagam para estudar. Fornece, sim, oportunidades aos docentes de adicionarem unidades curriculares representativas das suas supostas especialidades aos seus currículos, algo que será sem dúvida bastante conveniente para a próxima leva de concursos internos para promoções. Uma cambada de carreiristas hipócritas que se estão nas tintas para as necessidades dos estudantes e da sociedade e não têm brio nenhum no que fazem.
Pois veja-se que a UMa forma licenciados em inglês que nunca terão lido um verso de Shakespeare!
Pois veja-se que a UMa forma licenciados em línguas modernas que nunca terão estudado estas línguas numa perspectiva histórica!
Pois veja-se que a UMa forma licenciados em inglês sem que tenham feito nenhuma unidade curricular sobre o passado histórico e cultural da Grã-Bretanha! (mas se quiserem podem fazer uma cadeira sobre a Grã-Bretanha contemporânea? O presente interessa, mas o passado não? (e se fizerem esta cadeira estão automaticamente excluídos de fazer a cadeira equivalente sobre a Alemanha contemporânea ficando com uma formação desigual nas duas línguas em que se licenciam? Que sentido faz isto?!).
Pois veja-se que a UMa vai obrigar os licenciandos em línguas a saltar diretamente para cadeiras de Tradução e Terminologia (práticas) sem nenhuma cadeira prévia (teórica) de introdução aos estudos de tradução!
Pois veja-se que a UMa licencia alunos em línguas modernas sem lhes proporcionar como opção uma única cadeira de pedagogia de línguas estrangeiras! (um licenciado em línguas que não foi ensinado a ensiná-las? Só podem estar a gozar...).
Pois veja-se que, no entanto, e apesar de todas a idiotices já apontadas, a UMa oferece a licenciandos em inglês e alemão a importantíssima oportunidade de fazerem cadeiras de latim! (Caso para perguntar: quo vadis?)
Como se pode ver, isto é inenarrável!
E o leitor que possa pensar que isto não tem importância que se desengane e fique sabendo que a licenciatura em línguas é uma das mais concorridas da UMa, chegando a receber mais de 200 candidaturas para 60 vagas. Atualmente, interesse não falta! Mas se se “formarem” estudantes cada vez mais incompetentes, um dia vai faltar. Uma universidade que está constantemente nos jornais a choramingar que não recebe dinheiro suficiente do estado está a matar uma galinha dos ovos de ouro.
Mas não é este o curso que forma os quadros do partido portanto ninguém quer saber...
Isto não é licenciatura para aprender inglês, é só curso para inglês ver!
Quem puder que evite...
Enviado por Denúncia Anónima
Quarta-feira, 26 de Julho de 2023
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