Bom dia!
A qui há dias, um amigo meu, que é funcionário público, queixava-se que foi chamado à atenção por um alegado chefe por ter feito “Gosto” e comentado um texto publicado no Correio da Madeira. A minha primeira reação foi “…e não o mandaste para a puta que o pariu? Esses idiotas têm a chave da casa de banho do PSD e julgam-se importantes…”. Riu-se inicialmente com a minha reação mas depois ficou sério e confessou que ele não era o primeiro a quem isso tinha acontecido e foi nesse momento que ele desabafou.
Entre dois cafés, confirmou que até tinha grande consideração pelo Diretor Regional porque era uma pessoa competente de conversa acessível e que nunca tinha sido criticado por ele por ter uma opção política diferente do Partido do poder. Até confessou a rir que a sua opção política é sobejamente conhecida pelos colegas que até brincavam com ele que quando o Cafofo fosse presidente do Governo ele seria Secretário Regional.
A conversa depois tornou-se mais séria quando confessou que até se sentia perseguido pelas chefias ao ponto de alguns documentos internos lhe serem vedados por pensarem que podia usá-los publicamente, quando deviam saber que o dever do funcionário público proíbe a divulgação de informação restrita colocando em causa a sua idoneidade.
Com o alongar da conversa confirmou o que eu já desconfiava. Confessou que muitos dos colegas evitam usar o PC (computador pessoal) em acessos à internet ou e-mails por desconfiarem que os sites que consultam possam ser rastreados pelos responsáveis da informática e que por isso muitos optam por usar o telemóvel nos pontos de acesso WIFI do serviço por não serem detetáveis.
Eu não queria acreditar naquilo que estava a ouvir. De repente lembrei-me de “1984” escrito por George Orwell em 1949 que descreve a figura do Big Brother (Grande Irmão). O romance relatava a ficção de um futuro em que o Estado subjugava a população de Londres a um regime totalitário dominado pelo medo e pela repressão. O romance futurista acontece na cidade de Oceânia, que um dia fora Londres, um território dominado pela vigilância eletrónica, repressão e pelo medo, onde os pensamentos contrários ao Partido do poder podiam resultar na condenação à morte.
Em “1984”, a sociedade era dividida em três classes onde 2% da população pertenciam ao “Partido Interno”, 13% ao “Partido Externo” e os restantes 85% eram a classe indigente, nada muito diferente da realidade atual.
Embora escrito no pós 2º Guerra Mundial, “1984” adivinhava uma tecnologia de vigilância constante sobre os oprimidos. A “Teletela”, uma vulgar televisão que, além de transmitir a propaganda do Estado, tinha a capacidade técnica de ter integrada um microfone e uma câmara de vídeo com o objetivo de captar os sons e a imagens dos cidadãos anónimos, nada muito diferente dos nossos computadores e telemóveis.
George Orwell escreveu “1984” mas podia-se bem chamar “2023”.
Enviado por Denúncia Anónima
Sábado, 4 de Novembro de 2023
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