O meu pai nasceu em 1932 no meio da miséria, onde o milho cozido molhado em vinagre era o prato que matava a fome. Não conheço o 25 de abril porque nasci em 1977 onde já se comia queijo no Natal, arroz com ovo, massa e galinha ao fim de semana. Quando eu não queria comer a sopa o meu pai contava histórias do meu avô e da miséria que a Madeira era no tempo dele. Muito sério contava-me que o meu avô lhe dizia que o madeirense é calmo e só se revoltava quando passava fome.
Isso aconteceu a 6 de agosto de 1936, os pequenos produtores do leite revoltaram-se e deram origem à famigerada “Revolta do Leite”. Por decreto da Junta de Lacticínios, o preço do leite foi reduzido e tabelado. Perante um cenário de desemprego galopante, o protesto tomou contornos de revolta que resultou em 7 mortos e mais de 500 presos. Com as prisões da Madeira cheias, muitos foram enviados para as prisões do continente e os considerados indesejáveis para o regime foram condenados a três anos de cadeia como vulgares criminosos.
O tempo passou e graças ao 25 de abril o meu pai conseguiu-me pagar estudos no Porto. Hoje, graças aos seus sacríficos, sou médico e profissionalmente realizado.
Mesmo sendo testemunha de todas as privações que passei, hoje olho para os meus filhos e sinto pena desta geração. São licenciados e ganham um pouco mais de 1000 euros e sei que, sem a minha ajuda, nunca irão constituir família, viverem sozinhos e constituir família.
Julgo que o meu exemplo é comum a muitos madeirenses. Vejo gente nesta ilha sem ambição, acomodada ao pouco salário que ganham, julgando que com 1000 euros conseguem viver, comer e serem felizes. Os mais resilientes podem convencer-se que isso se deve unicamente ao País pobre que temos e que, aconteça o que acontecer, temos de continuar a amar Portugal.
Não concordo! A cada dia que passa a sociedade em que vivemos desmorona-se e torna-se cada vez mais desigual. De um lado continuam os milhares de anónimos que lutam pela sobrevivência e do outro meia dúzia de notáveis que enriquece em negócios obscuros, protegidos por detrás de uma imunidade que a democracia criou. Sou contra a imunidade dos políticos! Se eu roubar ou matar tenho de responder por isso, porque é que um político serve-se de uma lei que nos torna desiguais à luz da justiça?
Pior mesmo que os bandidos dos políticos é ver idosos abandonados nas camas do Hospital dos Marmeleiros, que mal sobrevivem com 300 euros, a dizer que querem votar no PSD no domingo para não perderem a reforma. Quem lhes disse tamanha aberração?
É altura de nos revoltarmos com estas injustiças e juntos, com a arma do voto, temos de mudar isto.
O futuro só depende de cada um de nós!
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