A falta de memória do deputado alfacinha


A minha avó Maria, do alto dos seus 85 anos, tem dois vícios na vida (que eu saiba): o primeiro é o seu licor de tangerina que bebe religiosamente todos os dias após o jantar, diz que a ajuda no descanso das noites mais claras, onde a sua única companhia é o Tareco. O certo é que a receita que herdou da mãe não a dá a ninguém. O outro vicio é o Memofante, que toma ao almoço para não “jogar” com o licor que bebe ao jantar. Enfim… é a idade.

Este domingo fui à sua casa e, como sempre, levei o Diário para ela deitar o olho, até porque tem a curiosidade de ver quem são os rapazes e raparigas do seu tempo que já foram com o Jesus. Sentou-se na poltrona já comida pelo tempo, colocou os óculos e com ajuda da saliva na ponta do dedo começou a folhear o pasquim. Logo nas primeiras páginas parou, soprou bem forte e bateu com a palma da mão na “senhorinha” ao seu lado. Perguntei-lhe o que vira e a avó prontamente respondeu-me, apontando para a imagem do Carlos Pereira, no topo da página 6: “Este homem deve achar que os madeirenses estão esquecidos… e até parece que estão. Olha, rapaz, deviam tomar Memofante como eu”. 

A mulher tem razão, as doses de Memofante estão mesmo a fazer efeito. E então não é que a avó ainda se recorda de quando Carlos Pereira, agora deputado em São Bento e também empresário na área dos diamantes, no já longínquo ano de 2007, tinha a avó então 68 anos, ficou com o mandato como vereador na Câmara Municipal do Funchal a arder, depois do Tribunal Constitucional assim ter decidido, por este não ter apresentado atempadamente a sua declaração de rendimentos referente ao ano de 2005. Porquê, não sei, mas ela acha que o Carlos Pereira há tempos que já deveria também andar “a tomar pastilhas” de Memofante. Assim não teria se esquecido de entregar o referido documento, nem ficaria a suspeição na praça pública de que o fez propositadamente com o intuito de omitir algo. “Credo em cruz! As bilhardeiras do café Apolo é que diziam!”, referiu a avó Maria, lembrando-se dos comentários à mesa do café feitos pelas suas ex-colegas professoras.

O certo é que ficou provado que ele fez borrada, a avó ainda está recordada do dia em que ele pediu desculpas públicas pela ignorância que demonstrou no cumprimento dessa obrigação e pelo esquecimento. Desculpas, evitam-se, sempre me disse a avó Maria.

Por estes dias, o deputado, que agora tem Lisboa no coração, veio ao calhau perdido no Atlântico e aproveitou para mostrar que ganhou rodagem nas festas, talvez por agora ser deputado alfacinha, terra das festas dos Santos Populares. E rumou até Machico para umas “jolas” com a sua malta. Se foram juntos, um "Smartinho" é suficiente, disse-lhe fazendo-a soltar uma sonora gargalhada. Talvez porque agora está mais habituado à Sagres do que à Coral, tenha acordado envolto num manto etílico, ainda com os Calema a tocar dentro da cabeça e regurgitou umas “papaias” sobre o Orçamento Regional e a sua legalidade. Sendo deputado na Assembleia da República, eleito por Lisboa, não deveria estar com a cabeça no Orçamento de Estado? Não sei, digo eu à minha avó, pode já não se lembrar.

A avó Maria dobrou o Diário, pois servirá agora de “aparo” para os cócós do Tareco, e rematou: “Ele que não diga tontices. Faça como eu, beba só um cálice de licor de tangerina após a sopinha e depois xixi e cama.

Enviado por Denúncia Anónima
Domingo, 28 de julho de 2024
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