Se isto "ISALiza-se" ...
H á algo de profundamente épico no que está a acontecer na Universidade da Madeira. Imaginemos: 185 bravos professores universitários, como valentes cruzados das cátedras, liderados por um reitor que manobra os concursos internos como um maestro das sinfonias de interesses próprios. Sim, são estes 185 destemidos — um número respeitável, convenhamos, mas nem por isso imune ao fascínio dos corredores de poder e à promessa de cargos — que poderão, com um simples votar de mão, assinar o epitáfio da instituição. Será esta a última luta do mais ousado Reitor da Madeira? Só o tempo dirá.
Dizem as más línguas (e as boas também) que o reitor tem um plano infalível: aproveitar os concursos internos como atalho para a eternidade reitoral, com a subtileza de quem passa despercebido entre as sombras. Dizem que o processo é tão transparente quanto um copo de poncha: parece que é claro, mas a cada gole ficamos mais confusos. Aliás, em vez de concursos, podiam chamá-los “eventos de consagração ao cargo”. Sim, porque na prática o conceito de "concorrer" é mais uma tradição popular do que uma competição verdadeira.
E quem é que vai ao leme desta embarcação? O nosso reitor, claro, que mais parece um capitão de um navio encalhado, mas que se recusa a abandonar a sala de comando. Aliás, reza a lenda que o próprio gabinete do reitor possui um buraco negro de poder que puxa para dentro qualquer um que se aproxime. Muitos tentaram escapar, mas acabaram sugados por ele e ficaram condenados a rolar eternamente pelas infinitas comissões.
E depois temos os 185 professores — os "escolhidos", digamos, por assim dizer. Estas nobres almas de giz na mão, que em tempos foram iluminados pela vocação do ensino, mas que agora parecem estar mais interessados em garantir o seu lugar ao lado do chefe, à espera do próximo projeto de investigação sobre "Como fazer de conta que a Universidade é um lugar de inovação".
No fundo, a Universidade da Madeira está a transformar-se no equivalente académico do Titanic, com a diferença de que aqui o iceberg é conhecido de todos, mas mesmo assim insistem em remar a favor. Estão lá todos, afundados em burocracias e regulamentos, a tocar os violinos metafóricos enquanto as vagas se aproximam.
Mas a história não termina aqui. Porque, na verdade, esta não é uma luta pelo futuro da universidade, mas uma batalha pelo futuro do presente, um presente que é confortavelmente assegurado e defendido pelos concursos internos, pelos lugares cativos e pela fé inabalável de que, quando o navio afundar, todos vão conseguir uma boia de salvação. Afinal, são só 185 valentes numa ilha. E se um navio afundar, há sempre outro concurso a caminho.
E assim se desenrola a epopeia trágico-cómica da Universidade da Madeira: um monumento a tudo o que poderia ser, mas que decidiu ficar exatamente onde está.
Enviado por Denúncia Anónima
Quarta-feira, 30 de Outubro de 2024
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