As Prioridades de Montenegro


N o mais recente episódio da comédia política madeirense, o Presidente do PSD, Luís Montenegro, em um gesto de delicada diplomacia europeia, decidiu que a sua presença na cimeira do Partido Popular Europeu (PPE) em Berlim era de um valor incontornável. Tudo isto enquanto o Conselho de Estado se reunirá em Lisboa para discutir a dissolução da Assembleia Legislativa da Madeira – uma prioridade política e institucional que, evidentemente, perdeu para o apelo de uma cimeira em terras germânicas. Como disse uma mente perspicaz nas redes sociais, “uma cimeira partidária é mais importante para o PM do que o Conselho de Estado”. Um sinal político claro, sem dúvida.

A ironia aqui é tão densa que se poderia cortar com uma faca. Numa altura em que o governo da Madeira se afunda cada vez mais na monotonia e na estagnação, com Miguel Albuquerque agarra-se ao poder como se fosse uma lapa (não uma metáfora leve, mas a imagem fiel do molusco que se agarra com tenacidade à rocha), o líder nacional do PSD – ainda que com o mesmo entusiasmo por todas as coisas políticas – se ausenta. A sua ausência, longe de ser uma coincidência, é um movimento cuidadosamente orquestrado. Montenegro, possivelmente cansado de levar as culpas por um partido regional que permanece atolado nas mesmas práticas políticas de sempre, parece ter finalmente decidido que já basta. Já basta de Albuquerque.

Mas é claro que a situação não é nova. O afastamento de Montenegro do líder madeirense já é um fenómeno repetido, um tipo de balé político onde, ao longo do último ano, Montenegro evitou Albuquerque mais vezes do que qualquer pessoa evita aquele amigo que só fala de si e nunca pede opinião. A dança de Montenegro – evasiva, calculista, estratégica – está em pleno andamento. Quem observa de fora vê claramente: o líder nacional do PSD não quer saber de um líder regional que, a cada dia que passa, vai mais parecendo um retrato de uma era política já ultrapassada. O facto de ter se ausentado do Conselho de Estado, preferindo a sua cimeira internacional, serve como a cereja amarga no topo de um bolo já recheado de falhas políticas e promessas não cumpridas.

E o que dizer de Miguel Albuquerque, que, aparentemente, ainda acredita que está a conduzir a Madeira rumo a um futuro de prosperidade? O homem que prometeu que não governaria sem maioria absoluta agora se vê forçado a justificar o injustificável. A sua incapacidade de entender a mais básica das lições políticas – que os tempos mudam e o poder absoluto não se sustenta para sempre – só faz aumentar a comédia que se desenrola à sua volta. O espetáculo de Albuquerque a agarrar-se ao poder é digno de um tragicomédia de Hollywood, onde o protagonismo não é, de facto, glorioso, mas sim uma sucessão de falhanços e gafes.

O seu apego ao poder é tão absoluto, tão inquebrantável, que chega a ser difícil discernir se ele ainda se dá conta de que as condições políticas mudaram, ou se simplesmente se sente confortável na sua pequena bolha. O que é um facto, no entanto, é que o seu governo regional, repetidamente, falha em dar respostas significativas às necessidades da população, e a Madeira, em vez de avançar, parece estar a ser arrastada para um retrocesso sem fim.

A verdade é que Montenegro, ao se ausentar da reunião de Estado para se engajar em assuntos europeus, dá um passo importante para sua própria autossuficiência política. Ele já não se importa em gastar mais tempo com um PSD-M que parece estar em queda livre. O líder nacional do PSD compreende que Albuquerque está, na melhor das hipóteses, em vias de extinção política. Ele simplesmente não tem mais paciência para esta política regional ultrapassada e preferiu, de forma astuta, lavar as suas mãos nas questões madeirenses.

A pergunta, agora, é: qual será o futuro para o PSD-Madeira? Será que o partido, perante a iminente queda de Albuquerque, terá coragem para olhar para dentro e fazer as mudanças que o momento exige? Ou o PSD, cativo da figura de um líder obsoleto, continuará a arrastar-se na lama da irrelevância política? O tempo dirá. Mas uma coisa é certa: o que se passa na Madeira é uma peça teatral de uma comédia trágica, onde as risadas são, no mínimo, amargas.

E, no fim das contas, o mais irónico de tudo é que, enquanto o país assiste a essa farra política regional, Luís Montenegro, ao que parece, já sabe: quem arrisca com Albuquerque, arrisca perder tudo. Talvez seja hora de deixá-lo ir...

Enviado por Denúncia Anónima
Quinta-feira, 16 de Janeiro de 2025
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