Sentia o calor dos raios de sol, lhe tocarem o rosto.
Era mais um dia que começava, na vida de Matilde.
A brisa fresca mas suave, que entrava pela janela entreaberta do seu quarto, provocava-lhe um pequeno arrepio, e interiormente, agradecia a Deus, por mais um dia, que Ele lhe havia concedido.
Lentamente, e com alguma dificuldade, se erguia da cama.
A saúde que disponha, aos 90 anos, era fragilizada, e isso se repercutia na forma como tentava se movimentar.
No entanto, munida de um espírito guerreiro, não deixava se abater pelas dores nos ossos e articulações, e prontificava-se para a tão aguardada companhia que, diáriamente tinha.
Matilde, vivia sozinha, e dependia da ajuda de outras pessoas, para sobreviver.
O relógio da praça soava as badaladas das 9h, e, no silêncio daquela casa modesta, ecoou o som de alguém bater à porta.
A tão esperada visita havia chegado!!
Com o auxílio de uma bengala, vagorosamente percorreu o corredor, e, ao abrir a porta, o bom dia dado com um sorriso, aconchegava o seu coração.
O abraço apertado, dissipava as dores que, incansavelmente, tomavam conta do corpo daquela frágil mulher.
Era Celeste, a dócil rapariga que, todos os dias, vinha ajudar Matilde.
Desde a sua higiene diária, à confecção das refeições, ao lavar a roupa e passar a ferro, ao cuidado de tomar a medicação a horas, Celeste era quem fazia a diferença no dia a dia desta mulher.
Matilde tinha a bagagem de uma vida dura.
A família, aos poucos, a havia abandonado, e o homem a quem havia dedicado todo o amor do seu coração, tinha perdido a guerra contra uma fatídica doença.
Quem restava na vida de Matilde?
Ninguém...
As horas passavam a correr!!
Entre as tarefas a cumprir, imperava uma amizade indescritível entre ambas, como se se tratasse, de laços de sangue!!
E, ao fim do dia, havia sempre um bocadinho de tempo para se sentarem as duas, e disfrutar de um jogo de xadrez, cujas jogadas, quando não eram terminadas, eram sempre continuadas, no dia seguinte.
O relógio da praça volta a soar...
Agora marca as badaladas das 18h...
Hora da Celeste ir.
" Está na hora D. Matilde. Mas amanhã regresso."
Olhando para aquela jovem, por meio dos óculos que lhe amenizavam a vista já cansada, abraçou-a e agradeceu-lhe pela companhia.
A porta fechou, e Matilde viu-se novamente sozinha...
Ao cair da noite, Matilde refugiava-se do frio de mais um dia de Inverno, na sua cama. Cobria-se com mantas de lã, e, com suas mãos trémulas, agradecia a Deus, por ter colocado, no seu caminho, um doce ser que a fazia se sentir amada!!
A vida é como um jogo de xadrez...
Temos o peão, a torre, a rainha, um certo número de peças, que são necessárias para disputar o jogo...
Mas é preciso mais de uma pessoa, para levarmos o jogo até ao fim...
A vida, é um bem precioso, mas, muitas vezes, é só mesmo no fim da jornada que se olha para trás, e reflectimos no que se baseou a nossa existência.
Há quem sorria, pela vida abundante que teve...
Há quem chore, por não ter concretizado tudo aquilo que se predisponha a viver...
Há quem se arrependa, por não ter dado tempo ao que, realmente importava...
Que cada um de nós, possa ser hoje, aquele sorriso que conforta!!
Que possamos ser o olhar que tudo diz, sem serem proferidas palavras!!
Que sejamos aquele abraço, que afugenta a escuridão, e que faz brilhar uma nova esperança na vida de quem precisa!!
Que sejamos as mãos que amparam...
Que sejamos o ombro que aconchega...
Que sejamos a luz que marca, como uma impressão digital, a vida de quem, todos os dias, se cruza com a nossa!!
Porque só e só assim, é que no fim do nosso percurso neste mundo, é que poderemos dizer, com um sorriso genuíno:
XEQUE-MATE!!
Enviado por Denúncia Anónima
Terça-feira, 18 de março de 2025
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