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É impressionante que já te tenhas esquecido disto. |
Ó Beto do Naval,
Tu, que navegas de blazer nos ombros como se fosse um colete salva-vidas do estatuto social. Tu, que confundes esforço com herança e meritocracia com o número de apelidos no cartão de cidadão. Tu, que entre um gole de gin e uma queixinha sobre os turistas “que não sabem comportar-se”, lanças a tua pérola iluminada:
“Ai, mas porque é que as pessoas precisam do ‘Madeira Opina’? Quem tem boca vai a Roma, não é?”
Não, Beto. Quem tem boca na Madeira vai para o desemprego. Ou, no mínimo, leva um “ajuste de contas” daqueles silenciosos, tipo ficar misteriosamente fora das listas de promoções, ver contratos a não serem renovados ou então receber um belo “olha, pá, não há mais orçamento para o teu cargo”.
É fácil para ti dizer que não há necessidade de denúncias anónimas, quando nunca tiveste de calar a boca para manter o emprego. Quando nunca estiveste na posição de escolher entre falar do chefe incompetente ou continuar a pagar a renda. Quando nunca tiveste de engolir sapos porque sabes que qualquer problema teu resolve-se com um telefonema do “tio” ou um café com o “doutor”.
O “Madeira Opina” não existe por desporto, Beto. Existe porque nesta terra pequena, onde toda a gente conhece toda a gente, abrir a boca pode custar a vida profissional. Existe porque há gente que trabalha a sério, mas está farta de ver a panelinha dos mesmos senhores a mandar sempre nos tachos. Existe porque nem toda a gente pode “arriscar” sem medo de falhar, porque para muitos, falhar significa ter de ir viver para casa dos pais aos 40 anos.
Enquanto tu te preocupas com o estado do teu barco e se o serviço do restaurante do clube está ao nível da tua exigência, há quem esteja preocupado em saber se amanhã ainda tem emprego, se o contrato vai ser renovado ou se a cunha alheia lhes vai passar à frente.
Por isso, da próxima vez que quiseres debitar essa filosofia de privilégio mal disfarçado, pensa duas vezes. Porque, ironicamente, até tu acabas por te rir do que lês no “Madeira Opina”. Só não percebes que, sem ele, o único sítio onde se falava mal das injustiças seria entre sussurros, no café, com o risco de alguém ouvir e fazer-te a folha.
A vida real não é uma regata onde o vento está sempre a teu favor, Beto. Aprende isso antes que um dia sejas tu a precisar do anonimato para dizer umas verdades.
Atenciosamente,
Um dos muitos que se riem quando te ouvem falar
Enviado por Denúncia Anónima
Domingo, 2 de março de 2025
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