Entre a Justiça, o Voto e o Estigma da Corrupção
Cinquenta anos é tempo suficiente para que um poder enraíze as suas práticas, crie a sua rede de favores e transforme uma democracia num feudo disfarçado de regime plural. Durante meio século, a mesma elite política controlou as instituições, distribuiu benesses e cultivou uma cultura onde a corrupção deixou de ser um escândalo para se tornar um método de governação. Agora, com a justiça a expor as entranhas do sistema, a população enfrenta uma escolha histórica: romper com o passado ou perpetuar o ciclo de podridão.
O povo acorda ou já está domesticado?
Diante das revelações da justiça, a reação do eleitorado pode seguir três caminhos:
- O despertar: a indignação transforma-se em ação, e a população usa o voto como uma ferramenta de punição e renovação.
- A síndrome de Estocolmo eleitoral: mesmo traído, o eleitor sente-se emocionalmente ligado ao opressor e prefere mantê-lo no poder por medo da mudança.
- A corrupção como norma social: após décadas de promiscuidade política, parte da sociedade já se beneficiou do sistema, tornando-se cúmplice voluntária. O voto, então, não é uma questão moral, mas um ato de autopreservação.
A verdadeira questão não é apenas se as pessoas vão votar, mas se ainda acreditam que o voto pode mudar algo. Depois de 50 anos, o conformismo pode ter contaminado de tal forma o tecido social que o eleitorado se divide entre os que querem mudança e os que têm medo do desconhecido.
O Estigma
Como esta população será vista externamente?
A forma como a população responde a este momento definirá a sua imagem perante o resto do país e do mundo. Há três cenários possíveis:
Positivo. Se votar pela mudança, será vista como uma sociedade que, apesar do passado de corrupção, soube reagir, renovar e reabilitar-se.
Negativo. Se perpetuar o regime corrupto, carregará o estigma de uma população resignada ou cúmplice, reforçando a ideia de que o ambiente de corrupção não foi apenas imposto, mas aceite e interiorizado.
Se for marcada pela abstenção, a imagem será de um povo que perdeu a esperança e desistiu da democracia, um espaço onde a política já não passa de um jogo de cartas marcadas.
Para aqueles que não vivem este ambiente promíscuo, a perceção pode ser ainda mais dura:
- Quem escolhe continuar sob um regime corrupto pode ser visto como conivente.
- O local pode tornar-se um santuário para negócios duvidosos, afastando investimento sério.
- O turismo e a economia podem sofrer, pois ninguém quer estar associado a uma região com fama de ser governada por "caciques intocáveis".
Podemos concluir sobre o fardo do voto e a memória coletiva... Estas eleições não são apenas sobre quem governa nos próximos quatro anos. São sobre como a sociedade quer ser lembrada nas próximas gerações. No fim, o poder nunca existiu sem a aceitação (ou pelo menos a passividade) dos governados. Se o povo não mudar, então a podridão não era só do governo, era do próprio sistema, e esse sistema inclui quem o perpetua com o voto.
Agora, a pergunta que fica no ar, será que o medo e a corrupção vencerão mais uma vez, ou estamos perante um verdadeiro ponto de viragem? Às 19 horas apontam, nas horas seguintes desfazem ou confirmam. Aguardemos.
Estamos cada vez mais num mundo de líderes que se perpetuam e não querem alternância, num mundo sem democracia.
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