No dia 17 de março de 2025 celebrou-se oficialmente os 235 anos do Curral da Freiras ou o Curral Velho elevado a Freguesia.
T rês ângulos de análise e perspectiva expondo a atenção do como os nossos Governantes respeitam e interpretam, nós os Curraleiros e em geral os Madeirenses. O primeiro ponto é o do vídeo de celebração da Junta de Freguesia e o testemunho de alguns Curraleiros. Em segundo a intervenção do Presidente de Junta Manuel Salustino e em terceiro lugar a intervenção da secretária da Agricultura Rafaela Fernandes.
Ao ouvir estas três participações chegamos rapidamente à conclusão que não se trata de uma mensagem de aniversário da elevação do estatuto do Curral a Freguesia.
O conteúdo das três participações são mensagens políticas, mensagens de glorificação dos serviços do Governo, das pessoas em cargos políticos, dos apoios do Governo e de recados para os que não têm as mesmas opiniões.
Observo pessoas acanhadas que pararam no tempo, pessoas dependentes dos apoios da Junta de Freguesia e Casa do Povo. Vejo gente que perdeu a capacidade de viver autonomamente, e que parecem querer viver sem se darem a maçada de lutar e fazer pela a vida. Utilizam os sacrifícios e umas histórias folclóricas do passado para usufruir das ajudas e ajudinhas.
Em tempos passados, quando se precisava de uma varanda para casa trabalhava-se e pagava-se se fosse preciso às prestações, agora encomenda-se a instalação e o serviço á na Junta de Freguesia(?!). O papel da junta de freguesia é essencialmente de fazer a manutenção e colocar varandas quando necessário nos caminhos públicos e nas instalações públicas.
E honestamente a grande e diferenciadora particularidade do Curral das Freiras é estar rodeado de montanhas e o isolamento que essas mesmas provocam. Esse isolamento foi ultrapassado com a construção dos acessos rodoviários nos últimos 30 anos. No entanto, todas estas dificuldades não justificam toda a choraminganda de alguns. Os Curraleiros devem aprender a ver para além do Curral das Freiras, podemos imaginar que a vida era muito semelhante entre as diferentes localidades da Madeira há 30, 40 anos atrás. A particularidade do Curral das Freiras é de não ter a possibilidade de ver o horizonte. As particularidades do Curral das freiras de 30 anos atrás nunca foram um problema para aqueles que conseguiam ver para além das montanhas...Há 30 anos atrás já havia muitos jovens que iam estudar para fora da freguesia como faziam outros jovens de outras zonas da Madeira.
Há particularidades que são próprias aos Curraleiros e outras que são comuns a todos os madeirenses. Em todas as Zonas da Madeira se passava fome e se andava descalço e tinham, impreterivelmente, que se deslocar durante horas e horas.
Os Curraleiros acham mesmo que foram o único povo que sofreu e passou fome nos últimos 50 anos na Madeira. O Curral das Freiras é claramente uma freguesia rural entre tantas outras da Madeira. A particularidade desta freguesia e do seu povo são as montanhas que lhes rodeiam e que por elas este local, e este povo, tem as suas singularidades.
Seria uma perda enorme o povo da nossa terra perder dinamismo e se transformar num povo sedentário e dependente.
O Manuel Salustino está convencido da sua superioridade, e de se achar até mesmo visionário... Mas as palavras que utiliza demonstram o contrário...pois tem um discurso atabalhoado, sem convicção - de garganta seca antes de começar a "discursar"- sem se aperceber as contradições nos argumentos que utiliza para defender os projetos de suposta "sustentabilidade" económica na freguesia.
Quer o sistema de teleféricos, investimento privado de 50 milhões (???) mas quer que a estrada do Vasco Gil até a Ribeira da Lapa seja alargada e parques de estacionamento com dinheiros públicos ( dinheiros de todos os madeirenses). Ao congratular-se pelos futuros 50 empregos deveria identificar quais os residentes terão acesso e onde estão, não se conhece, actualmente, desemprego na freguesia do Curral das Freiras, e até acha que isso vai favorecer a fixação de população no Curral das Freiras porquê que este filho da terra trabalha no Curral das Freiras e escolheu residir fora do Curral das Freiras, se é que tem uma justificação pessoal, o porquê que optou por proferir o comentário sobre a hipótese que os trabalhadores do teleférico vão viver no Curral das Freiras.
Justifica a existência de um destacamento de bombeiros no Curral das Freiras com uma caserna de Bombeiros porque considera que o Curral das Freiras é tão grandioso que perigoso, referindo-se por exemplo aos últimos incêndios de agosto 2024 em completa contradição com a instalação de um sistema de teleféricos nas nossa montanhas. Pois se já no último Verão tiveram dificuldades em gerir a situação imaginem se tivesse que gerir turistas presos nas montanhas do Curral das Freiras e de gerir o facto de existir linhas de teleférico que condicionam a acessibilidade ao Curral das Freiras em caso de incêndio pelos imprescindíveis meios aéreos, e nos de períodos de nevoeiro e de outras intempéries.
Que afronta a referência aos imigrantes curraleiros, e como se dá ao direito de sugerir que eles, imigrantes, podem-se projetar no futuro quase justificando os investimentos para que estes tenham a possibilidade de escolher voltar ou não... Que absurdo. Como se o futuro das pessoas fosse um assunto que lhe diz particular respeito.
Valorizou o impacto dos caminhos pedestres no alojamento local, no entanto não instruiu a hipótese do impacto negativo do teleférico sobre o desenvolvimento desta atividade. Sem falar da estrada do Jardim da Serra que passará para depois da realização do teleférico e do alargamento da estrada da Eira do Serrado. Por vezes se achar visionário demais é um grande defeito. Que figura anedótica!
E para terminar a análise da secretária Rafaela Fernandes poderia ser um discurso político em vésperas de eleições feito por Alberto João Jardim a 25 anos atrás na freguesia, a prova disso até gratificou-se das escolas da freguesia construídas nos últimos 20 anos, uma delas hoje fechada e outra que está quase vazia. Comparou meio século de Governação do PSD na Madeira com um jogo de futebol de 90 minutos. Comparou as interrupções nos mandatos governamentais com as interrupções de um jogo de futebol e que estas impedem de ver quem marca mais golos. Tão ridículo "cramar" tempo de jogo quando se joga o mesmo jogo há meio século, num jogo que não aceita nem respeita os adversários muito menos visões diferentes. E depois continuou a glorificar os serviços do Governo e todas as ajudas que são distribuídas às populações, o Governo Regional e seus responsáveis são grandes homens que têm a capacidade de ouvir a população como o faz o padre da freguesia. Sobretudo se estes são mansos e submissos.
Colocou as associações culturais como importantes para a freguesia, assim sendo seria interessante que estas associações sejam supervisionadas e obrigadas a declarar os benefícios que fazem. Estas são importantes aos olhos do Governo porque recebem ajudas do Governo e que por suas vez ficam desprovidos da capacidade de opinar sobre o trabalho do Governo e condenou as associações cívicas ONG que tiveram a capacidade de se organizar e de submeter à opinião pública uma análise com argumentos científicos, paisagísticos e culturais.
As palavras proferidas pela secretaria foram anti-cívicas, desrespeitosas para uma grande parte da população que também é madeirense.
Devia a senhora do governo ter considerado positiva a intervenção das ONG´s considerando a sociedade democrática onde vivemos, e se congratular do seu interesse cívico pelos os projetos públicos ou privados. Ao não fazê-lo demonstra cabalmente que este governo, o seu executivo e a secretaria consideram erradamente estas organizações como anti-desenvolvimento. Acusações dignas de um Governo que parou no tempo, que não quer cidadãos activos e implicados e dispostos a supervisionar os trabalhos do Governo. Atitude digna de um partido e pessoas que fazem parte de um sistema onde o papel do cidadão na democracia é somente o voto no dia de eleições. Este é considerado pelo o Governo PSD como uma carta branca para os anos que seguem as eleições. A secretaria e o seu governo referiu-se ainda que devíamos remar todos para o mesmo sítio e para os mesmos objetivos, descrevendo a imagem de um barco em alto mar e que todos tinham de remar no mesmo sentido para não afundar... Claro que a Rafaela se referia aos seus militantes PSD, pois estes remam sem questionar.
Claro que isto indica que os madeirenses, que não são da mesma cor partidária, ficariam fora do tal barco ou em todo o caso o rumo do barco não depende de todos os madeirenses.
A representante do governo tentou convencer o "povo" dos interesses comerciais do governo. Mas os governos de qualquer território normal e civilizado, não servem interesses comerciais.
A Secretária Rafaela continua a falar para os Curraleiros como se eles fossem uns atrasados e como se estes não tivessem a capacidade de ver a manipulação que lhes é feita.
Legitimar o projeto do teleférico e responsabilizar a população pela sua realização é vergonhoso.
Mais uma vez o Curral das Freiras foi o palco do que há de pior na democracia da Madeira, a chantagem política e social.
Que os movimentos cívicos ganhem dinamismo e que se torne "normalidade" opinar sobre os projetos que interferem com o interesse comum e com a autenticidade da Madeira e da população. Que o povo madeirense se torne num povo entendido em política e em democracia, o suficiente para diferenciar o que é normal do que não é normal.
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