O que se viu na Bolsa de Turismo de Lisboa foi, no mínimo, uma reinvenção ousada da tradição madeirense. Os trajes típicos, que outrora carregavam a identidade cultural da ilha, foram substituídos por mini-saias estilizadas, enquanto a música folclórica deu lugar aos ritmos fernéticos atuais. E, claro, a dança tradicional foi trocada por saltos e piruetas modernas, mais próximas de um videoclipe pop do que de um arraial madeirense. Massificamos o turismo, agredimos a sustentabilidade, não se faz respeitar a língua, vendemos artesanato da China, as bebidas típicas com ingredientes importados, a nossa identidade, o que nos faz únicos está a desaparecer com estes inchados de si próprios, alguns a coberto dos amigos do jornalismo que, gostando de ir à BTL, não se sabe se têm consciência que a propaganda garantida lhes está a toldar a cabeça.
Se o objetivo era modernizar a imagem da Madeira, conseguiram. Se era respeitar a tradição, falharam redondamente. Parece que a Secretaria Regional do Turismo decidiu que a melhor forma de promover a autenticidade da ilha é apagá-la. Qualquer dia somos um calhau com betão pontiagudo hoteleiros, uma parede de betão vista do mar, com uma capital de alojamento local, um caos viário, um descanso impossível, uma sustentabilidade pior ainda, uma loucura de quem não tem Política de Turismo e acha que cada vez mais é o sucesso. Ele e toda a pandilha do Turismo deveriam ser apeados nestas eleições quando parece que é o back-up de outro inarrável que faz campanha, usando a democracia para fugir.
O que aconteceu na Bolsa de Turismo de Lisboa foi uma verdadeira "evolução" da tradição madeirense… ou talvez um surto criativo sem precedentes. A Secretaria Regional do Turismo decidiu surpreender ao transformar os icónicos trajes do folclore da ilha em mini-saias modernas, mantendo apenas o padrão dos tecidos tradicionais. Até aqui, vá, uma tentativa de fusão entre o passado e o presente. Mas depois veio a música: em vez de cantigas tradicionais madeirenses, o pop dançável tomou conta da festa. E, claro, as danças típicas, que costumam narrar histórias da vida insular, foram trocadas por coreografias frenéticas e saltos acrobáticos.
A questão que fica no ar é: será que isto ainda representa a Madeira? A cultura regional foi moldada ao longo de séculos, refletindo a identidade do povo e as suas raízes. O folclore não é apenas um espetáculo para turista ver – é uma memória coletiva, um pedaço da história que sobrevive através das gerações. Mas, pelos vistos, para a Secretaria do Turismo, tudo pode ser descartável, desde que pareça “inovador”.
Há quem diga que modernizar é essencial para atrair novos públicos. Verdade. Mas modernizar não significa descaracterizar. A autenticidade é um dos maiores trunfos da Madeira, e quando se troca a alma da cultura por um show genérico, arrisca-se a perder precisamente aquilo que torna a ilha única.
Se a tendência continuar, na próxima edição do evento talvez vejamos os bordados madeirenses estampados em t-shirts fluorescentes e os tradicionais bailinhos substituídos por um espetáculo de reggaeton. Quem sabe? Só espero que, quando voltarem a promover o bolo de mel, não o apresentem em forma de donuts com recheio de caramelo e topping de chantilly.
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Enviado por Denúncia Anónima
Segunda-feira, 17 de março de 2025
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