E Abril chega sempre igual, como uma peça que já vem com o elenco escolhido. Os mesmos rostos de sempre, os guardiões da memória fabricada, os intérpretes modelares da liberdade de boutique. É a mesma dança, os mesmos protagonistas, em circuito fechado, no público e no privado, da Avenida Arriaga a Machico. Mais um ano, mais do mesmo, em Machico, como na cidade, tudo segue na mesma batida, sem sequer uma tentativa de desafinar a melodia. Porque em ambos os cenários, a agenda é previsível, o palco é cativo e a novidade, essa, fica esquecida à porta.
Abril??? Celebrado por quem representa tudo... menos a liberdade. Basta olhar para a carreira. Para os silêncios. Para os sorrisos bem colocados.
Este ano, até houve quem tentasse. Um dos cantores preferidos do sistema, desses que circulam sempre com a casa às costas e o lugar quase garantido, lançou um daqueles posts açucarados. “Faz hoje um ano esta foto, faz hoje um ano este concerto...” — dizia, como quem lança rede ao mar.
Mas este ano não colou. Porque, antes mesmo do eco, o nome do costume já estava lá. O senhor dos palcos. O dono da agenda. O artista que canta Abril com a mesma vontade com que pisa a concorrência. Aquele que se move nos bastidores para aniquilar qualquer hipótese de alternativa.
É sempre ele. Com o mesmo ar de missionário cultural, de defensor da liberdade, enquanto fecha portas a quem ousa sequer desafinar.
E assim se repete a missa. Abril vai, mais uma vez, para o mesmo de sempre. O rosto habitual. A voz domesticada. O tributo que soa mais a rotina do que a resistência.
Canta Abril com o mesmo zelo com que protege o seu trono. Com a mesma energia com que manipula, filtra, e molda o circuito à sua imagem.
A liberdade encenada por quem sabe bem como manter o lugar: Aplaudir quem manda. Calar quem incomoda. Sorrir para as fotografias certas.
Abril??? Só se for na folha do calendário. Porque no palco... é sempre março. Ou pior: é sempre o mesmo.
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