O s recentes dados do Eurostat pintam um quadro revelador da segurança rodoviária na Europa, com a Suécia a ostentar a invejável taxa de apenas 22 fatalidades por milhão de habitantes em 2023. Em contraste, Portugal, com 61 fatalidades por milhão, e a Madeira, com a sua experiência particular, encontram-se num patamar menos auspicioso. Uma análise mais aprofundada sugere uma conclusão perspicaz: a velocidade máxima permitida nem sempre é o principal indicador de segurança.
O exemplo da Alemanha é particularmente elucidativo. Apesar de vastos troços da sua Autobahn não terem limite de velocidade – e de acolherem uma impressionante cifra de 34.71 milhões de turistas internacionais em 2023 – o país registou apenas 34 fatalidades nas suas estradas. Este número contrasta fortemente com as 61 mortes em Portugal, onde a velocidade máxima nas autoestradas é de 120 km/h e o país recebeu 26,5 milhões de turistas não residentes no mesmo ano.
Estes números desafiam a equação simplista que associa as fatalidades rodoviárias à permissividade da velocidade. Em vez disso, apontam para um problema mais profundo e estrutural em Portugal e, de forma aguda, na Madeira: a qualidade e o planeamento das nossas infraestruturas rodoviárias.
Na Madeira, as deficiências são flagrantes. As entradas e saídas da via-rápida assemelham-se, por vezes, a emboscadas, com faixas de aceleração e desaceleração perigosamente curtas, lançando os condutores abruptamente no fluxo de tráfego ou exigindo manobras bruscas para sair. A própria conceção da via-rápida parece alheia ao volume de tráfego local e turístico, revelando falhas de planeamento basilares. As inúmeras curvas desnecessárias, como o exemplo gritante no Campanário, onde um percurso recto foi inexplicavelmente substituído por uma curva apertada antes do túnel, são testemunhos de uma engenharia rodoviária, no mínimo, questionável.
Mas o problema não se restringe à via rápida. As estradas regionais e locais da Madeira, tal como em muitos pontos de Portugal continental, padecem de uma deficiente construção, passeios inexistentes em zonas urbanas e rurais, um excesso de curvas traiçoeiras e cruzamentos com visibilidade reduzida. Estas características transformam as nossas estradas em autênticas ratoeiras, onde o erro humano é frequentemente amplificado por um ambiente rodoviário hostil.
A esta perigosa equação junta-se a alarmante falta de sinalização rodoviária. Em muitas secções de estradas, a ausência quase total de placas informativas ou de perigo torna a condução, sobretudo para quem não conhece a região, uma experiência labiríntica e insegura. A sinalização, essencial para orientar e alertar os condutores, é uma lacuna gritante nas nossas infraestruturas.
Em suma, os dados do Eurostat, aliados à realidade palpável das estradas portuguesas e madeirenses, fazem eco de um apelo urgente: a aposta na segurança rodoviária não se pode limitar a campanhas de sensibilização sobre a velocidade. É imperativo um investimento sério e estratégico na requalificação e modernização das nossas infraestruturas rodoviárias. Estradas bem planeadas, construídas com padrões de segurança exigentes e devidamente sinalizadas são pré-requisitos para reduzir a trágica perda de vidas nas nossas estradas. A lição das estradas mais seguras da Europa é clara: a verdadeira segurança reside numa infra-estrutura rodoviária inteligente e bem executada, onde a vida não é posta em risco por curvas desnecessárias ou saídas repentinas.
Link traduzido para português: "Mortes nas estradas da UE diminuíram 1,3% em 2023" (link)
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