Q uando pensamos em destinos paradisíacos, com sol o ano inteiro, mar azul-turquesa e comida que engorda só de olhar, dois nomes vêm à cabeça: Malta e a Madeira. Mas se olharmos com mais atenção, e talvez com uma lupa judicial, estas ilhas não são apenas postais turísticos. São também casos de estudo em como o paraíso pode ser gerido… digamos, de forma criativamente política.
Malta é uma ilha no Mediterrâneo com influência britânica, carros a andar do lado errado da estrada, e mais igrejas por metro quadrado do que fiéis ao domingo. A Madeira, por sua vez, é um pequeno Éden português no Atlântico, onde os turistas vêm provar vinho, acampar na Laurissilva e tentar não ser atropelados por carros de rally ilegais em estradas construídas com milhões da União Europeia.
Ambas as ilhas têm algo mais em comum além das paisagens de cortar a respiração, têm reputações algo manchadas por alegados escândalos de corrupção.
Em Malta, o caso mais conhecido envolve o brutal assassinato da jornalista de investigação (emprego inexistente na Madeira) Daphne Caruana Galizia, que expôs esquemas de corrupção no mais alto nível do governo, incluindo alegados favores a oligarcas e negócios obscuros com passaportes dourados. Uma verdadeira novela mediterrânica, com toques de espionagem, petróleo e bancos que lavam mais branco que sabão azul e branco.
Na Madeira, os escândalos são mais discretos, mas igualmente suculentos. Durante anos, o arquipélago foi praticamente o feudo de um certo presidente regional de verbo solto e punho firme (quem se lembra de Alberto João, sabe do que falamos). A construção civil floresceu como a vegetação subtropical, regada por fundos europeus e contratos públicos adjudicados com leveza. Há quem diga que as obras públicas na Madeira são como os túneis da ilha, aparecem de repente e ninguém sabe bem onde começam ou acabam… mas custam sempre uma fortuna.
Se em Malta há suspeitas de redes internacionais e lavagem de dinheiro em blockchain, na Madeira o enredo passa por empresas amigas, ajustes directos e uma relação calorosa entre política e negócios locais. Uma forte cultura de “confiança e desconfiança institucional” e, quem sabe, de “empreendedorismo” bem elitizado.
Ambas as ilhas vivem do turismo, e nisso são mestres. Afinal, enquanto os visitantes tiram selfies em miradouros ou mergulham em águas com dejectos não tratados pelas ETARES, poucos notam os jornais locais a noticiar mais um inquérito arquivado por "falta de provas", ou a nova adjudicação de milhões para uma estrada que já existe. É como esconder um elefante num campo de flores, o truque é pintar-lhe flores em cima.
Malta e Madeira são lugares lindíssimos, acolhedores e perfeitos para umas férias. Mas se for jornalista, auditor da União Europeia ou alguém com alergia à opacidade administrativa… leve um repelente extra.
São ilhas pequenas… mas com oceanos de segredos.
Porque será que o protegido dos Sousa, DDT, Sérgio Gonçalves anda a passear por lá e a defender protocolos entre ambas as ilhas…? Curioso…
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