Quando o silêncio da direção mata pela segunda vez.

U ma criança de 12 anos morreu. Suicidou-se. Tinha nome, sonhos, medos e um apelo silencioso que nunca encontrou eco nos corredores da escola que deveria protegê-la. O motivo da sua morte é claro: bullying. O que deveria ser igualmente claro, mas não o é, é a responsabilidade da direção da escola neste desfecho brutal.

A direção preferiu o silêncio. Não assumiu qualquer responsabilidade. Não pediu desculpas. Não reconheceu falhas. Limitou-se a tratar a morte como um acontecimento isolado, uma tragédia inexplicável que "aconteceu", como se crianças se suicidassem por acaso. Esta postura não é apenas cobarde. É cúmplice.

Num sistema educativo que se diz inclusivo e humano, é intolerável que uma criança possa ser alvo de violência contínua, visível, repetida e nada aconteça. Onde estavam os olhos atentos? Onde estavam os adultos responsáveis? Onde estavam os mecanismos de proteção? Quando os gritos são ignorados, o silêncio das vítimas torna-se grito final. E quando isso acontece, a culpa não morre com elas.

É papel da direção criar uma cultura escolar onde o bullying não tem espaço, não apenas nos regulamentos, mas na prática. É sua obrigação garantir que cada aluno se sinta seguro. Quando essa obrigação é negligenciada, o resultado não é apenas uma falha administrativa. É uma falha humana. Mortal.

Pior do que falhar é fingir que não se falhou. A ausência de responsabilidade institucional transforma a escola de um espaço de aprendizagem num lugar de trauma. A recusa em fazer uma autocrítica honesta impede qualquer forma de reparação. Não há investigação séria. Não há medidas urgentes. Não há sequer um pedido de desculpas. Apenas o silêncio, o mesmo silêncio que empurrou esta criança para o limite.

A direção falhou. Falhou em ouvir. Falhou em agir. Falhou em proteger. E agora, falha em assumir. Essa negação da responsabilidade é tão violenta quanto o bullying que matou esta criança. Porque quem tem poder para mudar e não muda, perpetua.

Não há forma de devolver a vida a quem se perdeu. Mas há formas de evitar que outras se percam. E isso começa por onde tudo falhou: no reconhecimento. Na coragem de dizer, com humildade e dor: "Sim, falhámos. E vamos mudar."

Enquanto isso não acontecer, a escola continuará a ser, para muitos, não um lugar de esperança, mas um lugar de medo. E a direção, longe de ser liderança, será apenas ausência.

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1 Comentários

  1. https://www.jm-madeira.pt/regiao/morte-de-crianca-goncalves-zarco-esclarece-que-nao-se-trata-de-um-caso-de-bullying-escolar-e-ha-provas-BN18045554
    Bullying é esta crónica.

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