Três Homens e um Segredo... de Estado


Comentário ao: Calado, Montenegro e os irmãos "Socicorreia". Uma teia de proximidades e interesses. (link)

E ra uma vez três homens muito sérios: Luís Montenegro, Pedro Calado e Miguel Albuquerque. Três nomes que, por puro acaso, aparecem frequentemente juntos quando se fala de corrupção, tráfico de influências e negócios públicos com cheirinho a camarão do bom.

Coincidência, claro.

Comecemos por Luís Montenegro, nosso estimado primeiro-ministro. Homem de firmes convicções — sobretudo quando se trata de não saber nada do que se passa à sua volta. É como o GPS político: só funciona depois de estar completamente perdido. Fala grosso com a oposição, mas quando lhe perguntam sobre contratos públicos dados de bandeja a empresários amigos do partido, solta um “não tenho conhecimento”, seguido de um “vamos apurar os factos” que já vem com validade vencida.

Depois temos Pedro Calado, autarca exemplar da Madeira (ou devo dizer, “exemplar de colecção”?). Um homem tão eficiente na arte de adjudicar, que faria corar um carteiro em dia de distribuição dupla. Sob sua liderança, algumas empresas pareciam adivinhar concursos públicos com a mesma precisão de quem prevê o Euromilhões — ou talvez só soubessem as respostas antes do exame. Nunca saberemos, pois o nevoeiro burocrático é denso e o arquivo, misteriosamente desorganizado.

E Miguel Albuquerque, eterno presidente do Governo Regional da Madeira, uma espécie de comendador das obras públicas, mestre em transformar paisagens naturais em parques de estacionamento e contratos por ajuste direto. Diz que está de “consciência tranquila” — o que, em político português, é geralmente o aviso prévio de que vem aí uma comissão de inquérito.

Mas calma — não estamos a insinuar nada. Aliás, isto é tudo baseado em alegações. Aquela palavra mágica que transforma escândalos gritantes em boatos simpáticos. É como chamar a um incêndio de “aquecimento involuntário”. No fundo, eles não fizeram nada ilegal. Só o que é legalmente duvidoso, eticamente vergonhoso e politicamente obsceno.

É fascinante como as mesmas empresas, ano após ano, vencem concursos, obtêm apoios, recebem obras, e por coincidência têm ligações — ténues, claro — ao partido do poder. Mas tudo transparente! Sim, como vidro fosco coberto de gordura.

Chamem-me cínico, mas quando três senhores com cargos de topo partilham o mesmo manual de truques — perdão, de governação — é difícil não suspeitar que estamos a assistir à versão portuguesa de “Casa de Papel”: só que em vez de assaltarem o banco, eles gerem-no.

Entretanto, o povo? Esse continua a pagar impostos, portagens e promessas não cumpridas. E se reclamar muito, dizem-lhe que está a “pôr em causa as instituições democráticas”. Porque, pelos vistos, quem questiona o sistema é mais perigoso do que quem o saqueia.

Portugal não é um país corrupto. É um país de coincidências. E estas três figuras — Montenegro, Calado e Albuquerque — são apenas homens que tiveram a sorte de estar sempre no lugar certo, à hora certa, com o empreiteiro certo.

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