A Arte do "Arrependimento Arrogante" por Eduardo Jesus


Arrependido pelo dissabor ao partido, não aos ofendidos.

E duardo Jesus, com a sua mais recente performance pública, parece ter elevado a arte de pedir desculpas a um novo patamar: o do "arrependimento arrogante". Depois de ter brindado os deputados com umas palavras menos simpáticas, o nosso ilustre protagonista decidiu que a melhor forma de emendar a mão seria pedir desculpa... mas não aos visados. Isso seria demasiado comum e a sua marca é nunca acertar. O alvo da sua contrição foi a Presidente da Assembleia, num movimento que cheira mais a um "ups, pisei o tapete do chefe" do que a um sincero lamento pelo insulto em si.

Este número de prestidigitação verbal lembra aquele miúdo que parte um copo na festa e, em vez de pedir desculpa à avó pelo copo estragado, vira-se para o pai e diz "desculpa lá, pai, se te dei trabalho". É uma estratégia engenhosa: reconhece-se o erro, mas de uma forma tão seletiva que a mensagem subjacente é mais "sinto muito que isto tenha chegado aos ouvidos de quem não devia" do que "sinto muito por ter ofendido alguém". Os deputados, esses, que fiquem a saber que a sua dignidade parlamentar é um detalhe menor na grande tapeçaria do protocolo.

A propósito, quando instituem o protocolo de abordagem nas intervenções da nossa ALRAM? Como na AR, não vai corrigir nada, mas ao menos começam com uma instrução para serem respeitosos e representantes do povo.

No fundo, Eduardo Jesus ofereceu-nos uma valiosa lição sobre como navegar as turbulentas águas da política com um pedido de desculpas que é, ao mesmo tempo, um golpe de mestre. É o equivalente a atirar um balde de água fria em alguém e depois pedir desculpa ao vizinho pelo barulho do balde a cair. Uma jogada arrojada, sem dúvida, que promete ser estudada em futuros compêndios de etiqueta política e para constar como (finalmente) um adjectivo no seu Dicionário. Resta saber se os deputados, após tal demonstração de arrependimento, se sentirão mais ou menos "insultados".

A arrependimento do nosso Eduardo é como o subsídio social de mobilidade, feito para a boa saúde do cash flow das companhias aéreas, para os ricos, mas não para os socialmente carenciados. Até a pedir desculpas é incompetente.

Esta foto diz muito: link

Enviar um comentário

0 Comentários