D ubai. Palavra mágica. Evoca luxo, opulência, arranha-céus que desafiam a gravidade e o bom senso, carros dourados e centros comerciais onde há mais lojas de joias do que árvores numa rua madeirense. Mas por trás desta miragem reluzente, o "milagre do Golfo" é, na realidade, um manual de como fazer tudo mal…
Sabia que no Dubai:
- A liberdade de expressão é praticamente inexistente. Criticar o governo nas redes sociais pode resultar em prisão ou deportação. É como se um comentário no Facebook valesse uma passagem só de ida para a cadeia.
- Existe uma lei de tutela masculina que obriga as mulheres a pedir autorização a um homem da família para casar, viajar ou até sair de casa em alguns casos.
- Ser ateu, homossexual ou simplesmente “ofensivo” para o Islão pode resultar em penas de prisão, multas ou tortura psicológica.
- Mais de 90% da população é estrangeira, e a maior parte desses vivem em condições sub-humanas, construindo os arranha-céus de luxo enquanto dormem em dormitórios sobrelotados e têm os passaportes confiscados por meses ou anos.
- Os trabalhadores do sul da Ásia (Índia, Nepal, Bangladesh, etc.) morrem às dezenas todos os anos em obras devido a calor extremo e falta de direitos básicos — tudo isto ignorado pelo “progresso” que se vê nos vídeos promocionais.
É este o Dubai que não aparece nas brochuras.
Agora avança o tempo e teletransporta-te para o Funchal. De repente, nasce do chão um edifício horrendo, uma aberração urbanística de betão e vidro, completamente desalinhada com a paisagem, a cultura, o planeamento — ou o que resta dele.
O nome? Apartamentos Dubai.Inspirados pelo glamour reluzente de Dubai — um conjunto de 400 frações T1 a T4, em nove edifícios, no que foi apelidado de megaprojeto Dubai Madeira, com investimento estimado de 300 milhões de euros. Localizados em São Martinho, estes prédios já estão em obra… mas também no centro de um turbilhão de suspeitas de corrupção, adjudicações diretas e favorecimentos.
Porque vamos copiar o pior exemplo de excesso e desumanidade?
E quem está por trás desta obra-prima da insensatez urbana?
- Pedro Calado, ex-presidente da Câmara do Funchal (2021–2024), detido pela PJ e obrigado a entregar o passaporte por risco de fuga — com ligações a Angola e Dubai.
- Avelino Farinha (Grupo AFA) e Custódio Correia (Socicorreia), principais promotores do projeto, detidos pela PJ.
- Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional, também constituído arguido, suspeito de outros negócios milionários.
- Margarida Pocinho, a técnica camarária que tem o dom da invisibilidade: nunca está onde há irregularidades, mas os papéis passam sempre pela sua secretária.
- Cristina Pedra, nome repetido porque também acumula funções, interesses e contactos — um verdadeiro “hub” de influência.
- João Rodrigues, aparentemente mais preocupado com a calçada da frente do que com os edifícios que engolem bairros inteiros.
O Ministério Público investiga crimes como corrupção ativa e passiva, prevaricação, tráfico de influência e favorecimento ilícito, em dezenas de adjudicações públicas que beneficiaram estas empresas . Trata-se de uma rede complexa, envolvendo contratos no transporte público, teleféricos, e o próprio megaempreendimento “Dubai Madeira”
Envolvidos num processo de alegada corrupção que, em qualquer país normal, já teria provocado demissões, investigações sérias. Mas por cá, a indignação dura o tempo de um story no Instagram.
O nome Dubai neste contexto não é um acidente, é uma metáfora perfeita. Representa o delírio do betão, a estética da ostentação vazia, a governação opaca, e a obsessão com parecer rico sem saber o que significa desenvolvimento.
O nome “Dubai” serve, afinal, como metáfora, luxo aparente, construção desenfreada, ostentação sem substância, opacidade e um registo de direitos humanos intermitentes. No Funchal, esse símbolo ganhou face, “Apartamentos Dubai” são hoje monumentos à vaidade, ao despautério urbanístico e ao eventual saque do erário público.
O betão cor-de-lixo da promiscuidade político-empresarial ameaça afundar-nos num Funchal de fachadas vazias, prédios alienígenas e calotes éticos.
Passe por e observe a vergonha da corrupção estampada na nossa ilha da Madeira.
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