E eis que Cláudia Monteiro de Aguiar, a nossa heroína da integridade súbita, anuncia que vai sair de cena. Não porque esteja a arder o palco, não! Apenas “por motivos de ordem pessoal”. Nada a ver com suspeitas de corrupção envolvendo o marido e umas quantas coincidências orçamentais que fariam corar um contabilista criativo.
Ela garante que sai com a “consciência tranquila”. Naturalmente. Só alguém com uma serenidade budista ou uma desconexão total da realidade conseguiria sair assim, sem pestanejar, no meio de um vendaval de suspeitas. É preciso coragem… ou um bom advogado.
Mas o melhor é quando nos brinda com a pepita, “sinto o dever cumprido”. Ora aí está, cumprido para quem? Para o interesse público ou para o plano familiar de diversificação de rendimentos públicos? Fica a dúvida. E as dúvidas, como sabemos, adoram viajar em primeira classe, preferencialmente pagas com fundos europeus.
A ex-eurodeputada e ex-secretaria de estado (imagine-se das pescas) diz ainda que sempre agiu com “lealdade, frontalidade e espírito crítico”. Lealdade, sim, especialmente à família. Frontalidade, talvez, mas só na direção dos fotógrafos. E espírito crítico? Isso, sem dúvida. Sobretudo para criticar quem ousa perguntar “porque é que os negócios do marido deram este salto quântico desde que ela chegou a Bruxelas?”.
É comovente ver tanta autoafirmação de virtude num texto que parece saído diretamente da secção de “como negar tudo com classe” do manual de crise política. Uma espécie de despedida à moda antiga, dar o salto antes que o tapete seja puxado.
Se isto é dever cumprido, então temos de redefinir o que significa dever. Porque, ao que parece, em certos círculos, dever é só aquilo que se cumpre… até à primeira busca domiciliária.
0 Comentários
Agradecemos a sua participação. Volte sempre.