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O Juízo Final de Miguel Ângelo. |
Olá Jorge,
E spero que este e-mail não vá parar ao limbo das decisões educativas mal pensadas — esse espaço mítico onde vivem o Magalhães, os quadros interactivos sem lâmpadas e agora, com toda a pompa e falhanço, o famigerado Projecto-piloto Manuais Digitais (PPMD).
Pois é, finalmente foi considerado inadequado para o 1.º e 2.º ciclos. Aleluia. Só faltava alguém da tutela vir dizer que dar a uma criança de 6 anos um tablet em vez de um livro era equivalente a dar-lhe um micro-ondas para aprender a cozinhar — tecnicamente faz coisas quentes, mas não ensina nada.
Mas vamos ao que interessa. Todos nós, reles mortais da educação, estamos à espera da reação do nosso estimado 2.º maior incompetente do Governo Regional da Madeira. Digo "2.º", porque deixemos espaço para a criatividade popular decidir quem lidera o pódio.
Nenhuma palavra. Nenhuma declaração. Nem um Insta story, já que estamos na onda digital. Está mais calado que aluno em exame de Matemática com a folha em branco.
Será que está a processar a informação? Ou talvez esteja em reunião com a equipa do “PowerPoint salva o mundo”? (Nunca se sabe, há sempre um novo projeto com sigla pomposa ao virar da esquina.)
Como é professor de Educação Física, suspeito que o conceito de “manual” para ele ainda seja um haltere. Talvez veja o digital como uma extensão do “aquecer antes de começar a aula”, umas aplicações aqui, umas plataformas ali, e pumba — problema resolvido. Mas não, Jorge. A educação não se mede em MB nem se ensina por Wi-Fi.
E o que dizem os estudos, esses seres chatos com dados e evidência? Dizem que os alunos aprendem mais e melhor com materiais físicos, com papel, com livros que se dobram, que se rabisca, que se sente. E não com ecrãs onde se fecha uma janela e, sem querer, se abre o YouTube.
Mas claro, entre a pedagogia e o “parece moderno”, ganha sempre o PowerPoint com transições em espiral.
Resumindo: a experiência digital para os mais novos não só não funcionou, como ainda cansou professores, confundiu pais, e trocou o saber ler por saber clicar. Mas não há problema — certamente já estão a pensar noutro piloto. Talvez drones para distribuir fichas aos alunos no recreio?
Se tiveres oportunidade, partilha isto com o nosso amigo do governo. Nem precisa de ler tudo — pode sempre usar um sintetizador de voz. Em versão beta, claro.
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