E se houvesse greve dos rececionistas de hotel na Madeira?


I magine isto, é segunda-feira, 9 da manhã, no Funchal. O sol brilha, os turistas estão prontos para mais um dia de selfies com a Poncha na mão e... onde estão os sorrisos falsos e os “como posso ajudar?” de quem está atrás da receção? Desapareceram. Evaporaram. Sumiram como bolo de mel no Natal. Todos os rececionistas da Madeira decidiram, num ato de rebelião gloriosamente passivo-agressivo, entrar em greve durante dois dias.

Os hotéis, sem os rececionistas, tornam-se uma confusão. Check-in? Só se conseguir decifrar o sistema informático com a mesma perícia de um hacker russo. Reservas? Esqueça. Há casais alemães a dormir no lobby, suecos a tentar pagar com conchas e um grupo de americanos convencido de que tudo isto faz parte de uma experiência imersiva.

No aeroporto, há turistas parados a olhar para os balcões de informações, como quem espera que apareça o messias ou, vá lá, pelo menos alguém que fale inglês com menos sotaque do que o Google Translate. Os táxis perdem passageiros para tuk-tuks conduzidos por surfistas locais que improvisam visitas guiadas com frases como “à esquerda temos um monte, não sei qual, mas é bonito”.

As agências de viagens entram em colapso emocional. Os grupos de Facebook “Madeira Lovers 4ever” explodem com mensagens em CAPS LOCK: “ALGUÉM SABE COMO FAZER CHECK-IN NO HOTEL???” e “É VERDADE QUE OS FUNCIONÁRIOS FUGIRAM PARA AS GRUTAS DE SÃO VICENTE??”.

Mas nem tudo é drama. Há sol e há justiça.

Enquanto isso, os rececionistas — tradicionalmente sobrecarregados, subvalorizados e forçados a sorrir até ao colapso da mandíbula — finalmente respiram. Literalmente. Respiram ar puro, vão ao mar, fazem caminhadas sem ter de ouvir “o Wi-Fi está lento” pela milésima vez. Uns até redescobrem que têm coluna vertebral e capacidade de dizer “não”.

E que ganhos! Nestes dois dias, reduzem-se drasticamente os níveis de stress crónico na população recepcionista. Percebem que não precisam da validação de um hóspede para se sentirem realizados.

A Madeira, ilha encantada do turismo e da banana, percebe que sem os rececionistas, nada anda. Que aquele “boa tarde” com sorriso de quem dormiu quatro horas não é só simpatia — é o motor invisível da indústria. E talvez, só talvez, os próximos orçamentos incluam menos coffee breaks para chefes e mais aumentos salariais para quem segura a receção como um verdadeiro escudo romano.

Se os rececionistas decidem parar… até o Cristiano Ronaldo perde a chave do quarto.

Que mais profissões poderão fazer a Madeira parar se entrarem em greve? Ora digam lá….

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