Maria Luís volta a atacar


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E sta senhora está de novo com a força toda, quer insuflar os negócios dos amigos especuladores? Embora os seus argumentos possam ter uma base teórica na economia e na lógica dos mercados, a sua aplicação prática e as suas consequências para o pequeno investidor merecem um olhar crítico.

Sou do tempo do caderninho da poupança do Cadilhe com bons conselhos, agora estou na era de lucro fácil da Maria Luís Albuquerque, Comissária Europeia para os Serviços Financeiros e União da Poupanças e dos Investimentos. Incrível. Já não engana a maioria dos portugueses, espero que os europeus também não.

Os consumidores devem investir em produtos financeiros de médio e longo prazo, mesmo com algum risco." / "A União da Poupanças e dos Investimentos é uma ideia que procura criar oportunidades para que as poupanças das pessoas sejam investidas com um rendimento mais elevado, especialmente quando pensamos em poupanças a longo prazo."

O argumento implícito é de que a rentabilidade a longo prazo nos mercados de capitais supera os depósitos e combate a inflação. A diversificação de investimentos beneficia a economia e os indivíduos. A senhora oculta os vieses e riscos ocultos para o pequeno investidor.

Cara senhora, a "simplicidade" e o "baixo custo" são conceitos relativos. Mesmo produtos "simples" podem ter complexidades subjacentes que o pequeno investidor não compreende totalmente. A banca e as instituições financeiras têm um conhecimento muito superior do risco real e dos mecanismos dos produtos que oferecem. Mas, eles são como os vendedores das imobiliárias, trabalham com os bens dos outros e ganham uma margem, ... sempre.

Uma pessoa neste cargo a incentivas a especulação? Embora o objetivo seja o investimento de longo prazo, a ideia de "rendimento mais elevado" pode, para perfis menos informados, ser interpretada como um convite a correr riscos excessivos na esperança de ganhos rápidos, transformando investimento em especulação não informada. Já tivemos disto em Portugal com o BES e os espertalhões não compareceram para restituir quem perdeu dinheiro com informação falsa.

Reparem que a advertência de "não há garantia de capital" é crucial, mas muitas vezes subestimada pelo público. Para um pequeno investidor que não tem capacidade para suportar perdas significativas, mesmo a médio prazo, esta recomendação pode ser financeiramente devastadora. Uma poupança que representa anos de esforço pode ser aniquilada. Esta gente quer usar o suor dos outros para ganhar o seu. São PARASITAS.

Responsabilidade de Quem? O conselho vem de uma figura que representa a "União da Poupanças e dos Investimentos", a UE está a "promover" ativamente este tipo de investimento? A responsabilidade individual do investidor é sempre real e pode ser influenciada por este tipo de discurso oficial. E ela vai mais além:

Vamos emitir uma recomendação aos Estados-Membros para que criem uma conta poupança-investimento, através da qual será disponibilizado um conjunto de opções de investimento simples, de baixo custo (...) e com incentivos fiscais.

O objetivo é democratizar o acesso ao investimento e tornar mais atrativo o desvio de poupanças dos depósitos para os mercados? Incentivos fiscais e simplicidade reduzirão as barreiras?

Mesmo que os custos de transação sejam baixos, podem existir outros custos associados a fundos (taxas de gestão, performance, etc.) que corroem o retorno. As "opções de investimento simples" é um eufemismo. Investir em ações, obrigações ou fundos implica sempre uma curva de aprendizagem e uma necessidade de monitorização, algo que o pequeno aforrador comum pode não ter tempo, conhecimento ou interesse em fazer! Fica nas mãos dos amigos de Maria Luís Albuquerque?

Os incentivos fiscais são uma isca para investimentos que, de outra forma, o investidor não consideraria, ou para os quais não tem perfil de risco. Podem também complicar a declaração de impostos para o cidadão comum! Ganha de um lado com risco e perde por outro, mas os amigos tiveram suor alheio par especular. Mais bolhas? Ponham todos os pés na Terra! Um afluxo massivo de poupanças "guiadas" por incentivos fiscais para classes de ativos específicas pode, em certas circunstâncias, contribuir para sobrevalorizações e bolhas, colocando em risco os novos investidores.

Mas, se o dinheiro for um depósito com juros baixos, os clientes do banco estão a perder dinheiro devido à inflação.

Manter dinheiro em depósitos bancários com juros baixos é uma perda real de poder de compra devido à inflação, o que torna o investimento uma "melhor" alternativa? Lindinha.

A perda de poder de compra num depósito é garantida e previsível, ao contrário da perda de capital num investimento de risco, que é incerta, potencialmente catastrófica e pode ser irreversível! Caramba, já passamos isto em Portugal e agora a senhora ataca a Europa? O aviso de "perda" devido à inflação é frequentemente usado para empurrar o dinheiro para os mercados, que por sua vez beneficiam a indústria financeira. A senhora não aborda o facto de que, para muitos, a segurança do capital, mesmo que corroído pela inflação, é prioritária à volatilidade dos mercados!

E depois de pedir investimento em produtos de riso, a senhora tem a distinta lata de desresponsabilizar a banda das perdas dos clientes. Não ao protecionismo no setor bancário / Fusões no setor bancário europeu? "Precisamos de empresas e bancos que sejam capazes de competir com as grandes instituições financeiras globais para oferecer mais e melhores serviços, a preços mais competitivos." O protecionismo nacional é um obstáculo? É o único obstáculo das ideias de Maria Luís Albuquerque?

A senhora quer  mais concentração de poder e risco sistémico, por acaso estamos num tempo de rebentar com esta ideia com os loucos que temos no mundo a destruir a economia. A ideia é "Demasiado Grande Para Falir" (Too Big To Fail), mas se um desses gigantes falhar, as consequências para a economia europeia e global seriam muito mais graves, potencialmente exigindo resgates públicos (financiados pelos contribuintes). A lição da crise financeira de 2008 deve ser recordada!!!

A senhora, enquanto ponta de lança da banca e produtos financeiros, defende uma agenda que, embora possa ter benefícios macroeconómicos (maior liquidez para empresas, maior capacidade de investimento), também serve os interesses da indústria financeira (mais ativos sob gestão, mais transações, mais lucros). Os conselhos que oferece, embora tecnicamente corretos em alguns aspetos (como a questão da inflação), são apresentados de uma forma que pode ser interpretada como um convite a assumir riscos que muitos consumidores não estão preparados ou não devem assumir, especialmente sem uma educação financeira robusta e independente. O foco na "perda" dos depósitos é uma forma eficaz de direcionar o capital para os mercados, onde o risco, embora recompensador para alguns, é real e pode levar à "perda e desperdício do esforço de poupança" de uma forma muito mais devastadora do que a inflação.

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