Bom dia, em vez de ser mais um feriado, decidi aquecer isto. Espero ver publicado.
A s projeções do país começam a cair, afetadas ela conjuntura mundial, com Trump a brincar com as tarifas. Basta haver uma extensão da guerra na Europa e a galinha dos ovos de ouro tem uma gripe das aves: o turismo. O país e a Madeira apostaram as fichas todas nesse modelo. A balança comercial americana melhora 55% porque diminuíram as importações, a China vai escapando de mazelas mas a Europa não. Portanto, Trump não impõe sanções à Rússia, mas, na prática, impõe à Europa. A conjuntura é volátil e, se repararem como o turismo para os EUA travou, pensem como em poucas semanas a tal galinha dos ovos torna-se canja.
Com o Chega em segundo partido mais votado em Portugal, por uma "brincadeirinha" que Marcelo promoveu e correu mal, vislumbra-se uma crise 100 anos depois...
Salazar tomou posse como Ministro das Finanças a 27 de abril de 1928, num período de profunda instabilidade política e financeira em Portugal, após várias crises e governos efémeros da Primeira República. A sua entrada no governo foi vista como uma solução para "salvar" as finanças públicas, dada a sua reputação como economista rigoroso.
Cem anos depois, em 2028, a pergunta é se o crescimento do Chega, num contexto de descontentamento e procura por "mão forte" (embora noutro regime político e com desafios diferentes), poderá levar a uma situação análoga. Alguns pensam que não tem quadros para tanto, mas os sucessos eleitorais atraem quadros e como os partidos tradicionais ainda não atingiram que se esqueceram das pessoas e trabalham para as suas clientelas, o Chega vai continuar a crescer.
Na conjuntura. é impossível não pensar nalguma aventura de Putin da maneira como se continua a armar e, com isso, uma crise no ocidente que não está unido com aquele tresloucado Donald Trump. Putin deve delirar com Trump a destruir a América. Los Angeles a ferro e fogo pode ser uma aventura imparável.
Vamos especular com datas, considerando o atual contexto político em Portugal (pós-eleições de 2025).
A entrada de Salazar em 1928 foi num regime ditatorial recém-instaurado (a Ditadura Militar) e num período de grande descrédito das instituições democráticas da Primeira República. Não havia uma democracia plena, e o convite a Salazar vinha de um poder de facto. O Chega, por seu lado, atua dentro de um sistema democrático, e a sua influência e participação no governo dependeriam sempre dos resultados eleitorais e das negociações políticas.
Salazar assumiu um papel quase incontestável nas Finanças, com autonomia que poucos ministros teriam em democracia. As suas "condições" para aceitar o cargo eram vastas e incluíam controlo sobre os orçamentos de todos os ministérios. Um partido como o Chega, mesmo que crescesse, dificilmente teria tamanha prerrogativa num governo de coligação ou minoritário numa democracia.
As crises de 1928 eram de natureza económica e financeira, mas também política, com instabilidade e golpe militar. Atualmente, Portugal enfrenta desafios económicos, sociais (custo de vida, habitação, saúde) e de confiança nas instituições (corrupção), o que gera um descontentamento que o Chega soube capitalizar. No entanto, a estabilidade democrática, apesar das fragilidades, é incomparavelmente maior.
O Chega já se afirmou como a segunda maior força política, é altamente provável que mantenha ou mesmo consolide esta posição nas próximas eleições legislativas.
Se o atual governo da AD (Aliança Democrática) enfrentar dificuldades significativas ou crises, e se o PS não conseguir recuperar a confiança do eleitorado, o Chega poderia solidificar a sua posição. Poderíamos ver um cenário onde o Chega, segunda força política mais votada, ou até mesmo, num cenário mais extremo de descontentamento e fragmentação partidária numa vitória, será pelo menos um player chave para a formação de governo.
Se as crises se aprofundarem (económicas, sociais, de corrupção sistémica) e se houver uma percepção generalizada de que os partidos tradicionais não conseguem dar resposta, poderia surgir um clamor por uma "solução radical" ou por uma "mão forte". No entanto, é improvável que isso se traduza na entrega de um poder tão absoluto como o que Salazar teve, devido à natureza democrática do sistema.
Num cenário mais realista, caso o Chega continue a crescer, seria natural a sua eventual participação em coligações governamentais. Não é "nim". Não necessariamente com a pasta das Finanças com os mesmos poderes de Salazar, mas com pastas ministeriais relevantes (Justiça, Administração Interna, Defesa, etc.) que permitissem implementar as suas políticas de "restauração da ordem" ou "combate à corrupção".
Se o Chega, depois de 2028, já tivesse tido alguma participação governamental, ou se as crises se aprofundarem sem soluções claras, e num contexto de grande polarização, talvez pudéssemos ver o partido a reivindicar um papel ainda mais central, similar à ideia de uma "salvação nacional", mas sempre dentro dos limites democráticos.
Um pormenor, as diferenças cruciais entre Regime Democrático vs. Ditadura. Em 1928, a transição para a ditadura estava em curso. Hoje, Portugal é uma democracia com mais de 50 anos de história. Os mecanismos de controlo, a liberdade de imprensa, a pluralidade partidária e a existência de eleições livres são barreiras significativas à ascensão de um poder incontestável como o de Salazar. Mas as pessoas estão zangadas a votar no Chega, os governantes andam tão entretidos nos seus negócios e ninguém entendeu o crescimento do Chega, ou então, preferem ganhar com suas negociatas até o esgotamento da tolerância.
O cenário geopolítico e económico é drasticamente diferente, Portugal está inserido na União Europeia, o que impõe certas regras e limites à soberania e às políticas internas. Embora haja problemas sérios, não há uma situação de bancarrota iminente ou guerra civil como nos anos 20 do século passado que pudesse justificar um "salvador" com plenos poderes. Mas há dificuldades em viver com este custo de vida e ninguém emenda. Chegaremos à vez do Chega dizer "não é não"? E o Chega produzirá algo parecido com uma guerra civil com os estrangeiros?
É improvável que o Chega atinja o mesmo tipo de poder e autonomia que Salazar detinha como Ministro das Finanças em 1928, dada a solidez (embora com fragilidades) das instituições democráticas portuguesas e o contexto europeu. No entanto, o paralelo reside na perceção de que um "problema" pode ser resolvido com uma abordagem mais radical ou com uma figura política que se apresente como "solução" para a desordem e a corrupção.
Uma certeza absoluta: os partidos tradicionais não se corrigem nem querem mudar, mas o Chega cresce e o eleitorado percebe como se vingar. A Madeira é um belo exemplo de teimosia.
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