Madeira à venda, até o mar.


H á coisas que custam a acreditar. Mas estão mesmo a acontecer. Cada vez que alguém tenta descer à costa e encontra um portão fechado, uma escadaria destruída ou um segurança a dizer “isto é privado”, há uma certeza que se confirma: estão a roubar-nos a Madeira. À descarada. E com a bênção de quem devia defender o que é nosso.

O nome do senhor é Eduardo Jesus — secretário regional do Turismo e da Cultura. É ele que está a permitir esta vergonha, entregar pedaços da ilha, do nosso mar, da nossa paisagem, a meia dúzia de hotéis e negócios de luxo que se acham donos disto tudo. Sim, porque hoje em dia, para aceder à costa em muitos sítios, parece que temos de mostrar o cartão de crédito ou fingir que estamos hospedados num resort de cinco estrelas. Caso contrário, rua.

Isto não é desenvolvimento. Isto é negócio para poucos e prejuízo para todos. O litoral da Madeira sempre foi do povo. Foi onde pescámos, onde demos os primeiros mergulhos, onde levámos os filhos e os netos para ver o mar. Agora, querem transformar isso num clube privado? Com o aval de um governante que devia ser o primeiro a dizer “não”?

Eduardo Jesus não é um qualquer. É quem tem o poder de travar esta destruição — mas escolhe deixá-la andar. Assina autorizações, fecha os olhos, faz discursos bonitos sobre turismo e “valorização do território” enquanto vão deitando abaixo escadarias, construindo em cima das rochas e tirando o mar a quem cá vive.

Isto é grave. Gravíssimo. Não só porque estamos a perder acesso ao que é nosso, mas porque estamos a ser enganados por dentro. São os próprios representantes do povo que estão a dar cobertura a este assalto disfarçado de progresso.

E depois, quem lucra? Os do costume. Meia dúzia de empresários ligados ao poder, alguns com ligações antigas, outros com favores bem pagos. A ilha vira palco de luxo para turistas ricos, enquanto os madeirenses são empurrados para longe — da costa, das casas, e até da dignidade.

É altura de dizer basta. A Madeira não está à venda. O mar não tem dono. E quem tem cargo público tem o dever de proteger o bem comum — não de o vender ao metro quadrado.

Eduardo Jesus ainda vai a tempo de mudar o rumo. Mas se não o fizer, que fique claro, quando se fechar mais um caminho para o mar, quando mais uma baía virar espaço exclusivo de quem paga bem, vamos saber de quem é a culpa.

E não vamos esquecer.

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