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Os madeirenses precisam de corda. |
H á uma verdade incômoda que muitos evitam dizer em voz alta, mas que precisa urgentemente ser exposta: os principais responsáveis pelo atual estado de degradação política na Madeira são os próprios madeirenses.
Durante anos, o povo madeirense habituou-se a votar por lealdade partidária, por comodismo ou por medo de mudar. O resultado está à vista: uma classe política desgastada, arrogante, e muitas vezes composta por indivíduos sem competência, sem escrúpulos e, mais grave ainda, com problemas sérios na justiça. A banalização de arguidos e acusados por corrupção nas listas às câmaras municipais é uma aberração que, noutra sociedade, causaria escândalo e revolta. Aqui, é normalizado, desculpado e até aplaudido.
Mas quem os elege? Quem lhes dá poder, voto após voto, mesmo perante escândalos, acusações, investigações e suspeitas? Não é o Ministério Público, nem os tribunais, são os madeirenses. A culpa não está apenas nos corredores do poder, mas nas urnas, nas escolhas conscientes (ou inconscientes) de um eleitorado que se habituou a ver a política como um clube de futebol: ganha-se, perde-se, mas nunca se muda de camisola.
A podridão começa cedo. As juventudes partidárias, em vez de formarem cidadãos críticos, independentes e preparados para o debate democrático, funcionam como fábricas de obediência cega. Jovens são doutrinados a idolatrar líderes, a seguir a cartilha do partido, a bajular em vez de questionar. A formação política foi substituída pela formatação mental. Crescem dentro de uma bolha onde o pensamento livre é um risco e o questionamento é visto como traição.
E o que dizer da arrogância institucionalizada? O presidente do Governo Regional transformou o poder numa extensão do seu ego. Fala apenas com quem lhe convém, responde quando quer e a quem lhe apetece. Age como se o poder fosse um direito hereditário e não uma responsabilidade pública. A falta de prestação de contas, de humildade e de espírito democrático já não espanta ninguém, espanta, isso sim, a passividade com que isso é aceito.
A Madeira está a ser governada por um sistema que se retroalimenta: o povo escolhe mal, os partidos aproveitam, os corruptos entram, os incompetentes sobem, os arrogantes mandam. E o ciclo repete-se. A culpa já não pode ser externalizada. Já não chega culpar o sistema, os tribunais, ou os outros. A culpa é de quem continua a legitimar este estado de coisas com o seu voto ou com o seu silêncio.
Se há arguidos nas listas, é porque alguém os pôs lá.
Se há incompetentes no poder, é porque alguém os elegeu.
Se há arrogância no topo, é porque alguém a tolerou.
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