O andebol no Barreirense: uma memória que incomoda


D urante mais de uma década, o Clube Desportivo Barreirense foi sinónimo de andebol na Madeira. Dos Minis aos Seniores, em especial centenas de jovens oriundos do bairro da Nazaré e zonas adjacentes, vestiram aquela camisola com orgulho, fizeram barulho nos pavilhões e levaram o nome do clube aos títulos regionais e até às divisões nacionais. Foi no andebol que o Barreirense cresceu, criou identidade, formou homens e atletas, alguns até com projeção nacional.

O auge deu-se nos anos 90, numa altura em que o andebol estava a explodir em Portugal com o movimento de Mini-Andebol lançado pela Federação Portuguesa de Andebol em 1992. Um projeto nacional que se espalhou por várias associações e escolas, com o objetivo de massificar a modalidade desde os escalões mais jovens. O Barreirense não ficou para trás, foi líder nesse movimento, ao lado do Académico do Funchal, e chegou mesmo a ser o clube com mais Bambis e Infantis a praticar andebol na Madeira em 1994. Uma autêntica escola desportiva, com dezenas de atletas por escalão, torneios memoráveis e uma massa associativa fervorosa.

Mais do que um clube formador, o Barreirense foi berço de talento. Por ali passaram atletas, dirigentes e treinadores como José Passos, Rui Fernandes, José Espírito Santo, Tozé Florido, Elder Cardoso, Carlos Baptista e Áureo Roberto, nomes que deixaram marca na modalidade. E não só: até árbitros de classe internacional como Duarte Santos e Ricardo Fonseca começaram por ali o seu caminho, entre tantos outros que deram tudo por aquele símbolo.

Além disso, o clube chegou a ter dirigentes que se destacaram tanto que foram condecorados, reconhecidos até como dos melhores no andebol da Madeira, com projetos sérios, inovadores e feitos concretos no terreno.

Hoje, esse passado parece ser incómodo. Pior: é sistematicamente ignorado. Um clube com história no andebol, com alma construída à custa de treinos suados, torneios animados e bancadas cheias, vê agora os seus responsáveis virarem as costas a tudo isso. O atual presidente não quer ouvir falar de andebol. O responsável pelo futebol (cuja modalidade nunca teve relevo digno no clube) faz eco da mesma indiferença. E a mensagem é clara: “aqui, andebol não.”

O declínio não começou agora. Já João Abel, então presidente do clube e dono da padaria Paparocas, iniciou em 1997 a derrocada do andebol no Barreirense. Deixou definhar uma modalidade que era o coração da coletividade. E agora, décadas depois, continua-se a fechar as portas àqueles que, com boa vontade e memória, tentam reerguer o que um dia foi grandioso.

O Barreirense foi um símbolo de referência no andebol madeirense. Era um clube vivo, com alma, com garra. A modalidade principal não era o futebol. Era o andebol. E foi isso que moveu gerações, encheu pavilhões e deixou uma marca que muitos ainda carregam no peito.

Negar esse passado é uma afronta. Ignorar quem quer recuperar esse espírito é uma vergonha. E é também sintomático da miopia de certos dirigentes que preferem a inércia à ação, o esquecimento à memória.

Podem tentar enterrar o andebol do Barreirense. Mas enquanto houver quem o viveu, e quem o defende, ele não estará morto. Só adormecido. E a memória, essa, não se apaga.

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