Caro Alberto João Jardim,
S im, ainda anda por aí. E sim, ainda fala. E sim, ainda há quem ache graça. Mas já agora, permita-me um conselho modesto, não estará na altura de fazer como os artistas que percebem o momento de sair do palco antes que o público comece a atirar tomates? Ou, maracujás da Madeira?
Sabemos bem, foram 47 anos de espetáculo. Um verdadeiro "one-man show" de gritarias, insultos folclóricos e grandiloquência em modo turbo. E durante esse tempo, enquanto o senhor berrava contra Lisboa, Bruxelas, comunas e fantasmas variados, um polvo, com mais tentáculos do que orçamentos, foi crescendo sorrateiramente à sua sombra. Curioso como agora, passadas décadas, esse mesmo polvo começa a mostrar a cabeça nos tribunais, nos jornais do continente e nos sussurros de café.
O que antes era um rumor virou investigação. O que era folclore tornou-se factura. E o que era “autonomia” parece ter sido, afinal, uma espécie de disfarce carnavalesco para uma gestão em modo "vale tudo desde que seja nosso e “contra o povo.
(...) Com todo o respeito que se deve a alguém que já devia estar numa espreguiçadeira a discutir o ponto cruz da Constituição com o cão, talvez fosse sensato fazer aquilo que tantas vezes aconselhou aos outros, calar-se. Porque cada vez que aparece, com aquele ar de quem descobriu a pólvora e a fez explodir nos impostos dos outros, só lembra ao povo (e às autoridades competentes) que foi durante o seu reinado que este império de esquemas se institucionalizou com a alegria de uma tourada financiada por fundos europeus.
A Madeira está a mudar. Não, não se trata de ingratidão, trata-se de higiene. E quando o cheiro começa a subir das profundezas do mar, talvez seja altura de nadar para longe, antes que o polvo decida reconhecer o criador e lhe dê um abraço... mas daqueles apertados.
Por isso, Alberto João, seja por dignidade, por estratégia ou simplesmente por bom senso, pense nisto, tenha a decência de desaparecer. Observe verdadeiros senhores da pátria que sabem sair de cena como um verdadeiro gentlmen, como Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio, entre outros.
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