Os protegidos de Albuquerque chegam para vencer?


V ivemos tempos em que as campanhas eleitorais deixaram de ser disputas ideológicas para se tornarem desfiles de fidelidades internas, alianças de ocasião e jogos de bastidores cuidadosamente ensaiados. Na Madeira, esse fenómeno ganha contornos quase coreográficos. A proximidade de novas eleições traz ao palco político uma figura já bem conhecida, os “protegidos” de Miguel Albuquerque, rostos reciclados do aparelho do PSD regional, cuidadosamente escolhidos não pela sua competência técnica ou visão política, mas pela sua lealdade ao chefe.

A grande questão que se impõe é simples, bastará esta rede de protegidos para garantir uma vitória eleitoral? A resposta, embora incerta, merece reflexão.

Desde a era de Alberto João Jardim que o PSD-Madeira se habituou a funcionar como uma máquina de poder oleada por décadas de hegemonia, compadrio e uma cultura política baseada na fidelização pessoal mais do que na prestação de contas. Miguel Albuquerque, apesar do verniz mais contido e do discurso mais institucional, herdou esse sistema e pouco ou nada fez para o reformar. Pelo contrário, alimentou-o. Os nomes que hoje surgem nas listas, nos cargos estratégicos e nas estruturas intermédias são, em larga medida, o produto direto dessa teia: figuras que ascenderam não por mérito reconhecido ou resultados concretos, mas por serem previsíveis, obedientes e úteis ao equilíbrio interno do partido.

O problema, claro, não está apenas na origem dessas escolhas, mas nas consequências que têm para a qualidade da governação. Quando a prioridade é garantir proteção política e não resolver problemas reais, como o colapso nos serviços de saúde, o endividamento estrutural ou os sinais preocupantes de corrupção, o resultado é uma política vazia de estratégia e cheia de slogans. A estabilidade, palavra tantas vezes repetida por Albuquerque como se fosse sinónimo de sucesso, começa a soar oca quando os alicerces desse equilíbrio são feitos de favores, silêncios cúmplices e uma rede de interesses que hoje já não se esconde.

Os mais atentos não ignoram que o polvo que começou a formar-se no tempo de Jardim e que Albuquerque jurou não replicar, parece estar bem vivo, agora com tentáculos estendidos a novas esferas e novos protagonistas.

Perante este cenário, voltamos à pergunta inicial, chegam os protegidos para vencer? Talvez sim, se o eleitorado se mantiver resignado ou descrente de alternativas. Mas se houver uma genuína vontade de renovação, não de rostos, mas de práticas políticas, então essa vitória poderá ser apenas aparente, ou passageira. Porque a legitimidade política não se esgota na contagem de votos; constrói-se na confiança, na transparência e na competência. E é aí que os protegidos, por muito apoio interno que tenham, podem revelar-se insuficientes.

A Madeira já mostrou capacidade para resistir a muito. Pode ser que esteja, finalmente, pronta para exigir mais do que fidelidade cega e discursos bem ensaiados.

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